Título: Brasileiros mostram novo dino
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Vida&, p. A28

Um novo dinossauro, descoberto em 2001 no interior do Rio Grande do Sul, foi apresentado ontem em Ribeirão Preto. O Sacisaurus agudoensis viveu há cerca de 220 milhões de anos e é um dos mais antigos do mundo, segundo os pesquisadores Max Langer e Jorge Ferigolo. Uma réplica do esqueleto do dinossauro, que media cerca de 1,5 metro de comprimento (do focinho à cauda) e 0,5 metro de altura, está em Ribeirão Preto. Cerca de 50 peças de fósseis do animal, que era herbívoro e qua-drúpede, estão no Museu de Ciências Naturais de Porto Alegre, mas fora de exposição.

O fóssil do Sacisaurus agudoensis foi encontrado por pesquisadores da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul na periferia de Agudo, a 200 km de Porto Alegre, uma área coberta por construções. Mas o achado não foi por acaso - a área é bastante investigada por paleontólogos por ser a única região do País com fósseis de dinossauros dessa idade. O Sacisaurus é do período triássico (quando surgiram os dinossauros) e veio da formação rochosa Caturrita. O Rio Grande do Sul tem, agora, seis espécies de dinossauros catalogadas, das 16 existentes do Brasil.

Da formação Caturrita, no entanto, são apenas dois, além de outros três argentinos, da região de San Juan. 'Não dá para precisar qual dinossauro é o mais antigo, se os brasileiros ou os argentinos, mas acreditamos que esses sejamos mais antigos do mundo', afirma Langer, professor de Paleontologia da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

ORIGEM SUL-AMERICANA

O achado reforça as suspeitas de que os dinossauros como um grupo tenham origem na América do Sul, em rochas com idades semelhantes encontradas no Brasil e na Argentina. Langer ajudou a classificar o novo dinossauro em 2005, após os fósseis terem sido descobertos pela equipe de Jorge Ferigolo, da Fundação Zoobotânica.

Langer foi aluno de Ferigolo. A dupla já atuou na descoberta de outros dinossauros brasileiros em 1998, o Saturnalia tupiniquim, encontrado por Langer, e do Guaibasaurus condelariensis, achado por Ferigolo.

O primeiro dino achado no Sul teve fósseis coletados em 1929, mas descrito apenas em 1945. O segundo foi coletado em 1934 e descrito em 1970. Com o Sacisaurus, portanto, tudo foi mais rápido. A revista inglesa Historical Biology, especializada em paleontologia, publicou a descoberta em 17 de outubro, com 11 páginas descrevendo o nome, o animal e os ossos. Segundo Langer, foram encontrados entre 30% e 40% do esqueleto de um Sacisaurus. O restante foi construído a partir de informações que os pesquisadores têm sobre o grupo ao qual o animal pertencia, os ornitísquios .

Das cerca de 50 peças de fósseis, foram encontrados 12 fêmures direitos, mas por incrível que pareça, nenhum osso da perna esquerda. 'Isso é raro e significa que foram encontrados fósseis de 12 indivíduos da mesma espécie', conta Langer.

Daí surgiu a piada de que o animal tinha só uma perna. Como o símbolo do time do Internacional, de Porto Alegre, é um saci, os pesquisadores criaram o nome brincalhão de Sacisaurus para batizar a espécie.

O novo dino é o primeiro brasileiro classificado no grupo ornitíquia (com o osso do púbis projetando-se para trás, não para a frente, como os do grupo dos saurísquios). Ele tinha um bico à frente da mandíbula, o que facilitava a trituração da matéria vegetal. No Brasil até então só havia registro de pegadas de fósseis de animais desse grupo em Souzas (PB) e em Araraquara (SP).

O Sacisaurus agudoensis tem como parente próximo o Silesaurus opolensis, da Polônia, também do período triássico. Langer explica que isso é possível, pois, naquele período a Terra tinha todos os continentes unidos, a chamada Pangéia. As primeiras peças encontradas foram dentes e a mandíbula. Como a Fundação Zoobotânica é especializada em mamíferos, Langer, ao ficar sabendo da descoberta, ofereceu-se para ajudar na classificação do dinossauro, pois essa é a sua especialidade. 'Agora vamos fazer a reconstituição da árvore genealógica do Sacisaurus', explica Langer.

A réplica do dinossauro foi feita pela Ophicina Naval, de Itapecerica da Serra, e a intenção da dupla é fazer, em breve, uma exposição itinerante de fósseis pelo Brasil. A réplica é maior que o tamanho natural do animal. Porém, Langer avisa que não dá para afirmar se os fósseis encontrados são de adultos, pois os répteis crescem ininterruptamente.