Título: Vem aí a invasão do carro chinês
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Economia, p. B4
Os chineses se preparam para exportar seus veículos às principais economias do mundo. No início de 2007, a China lançará pela primeira vez uma linha de carros em feiras internacionais na Europa. Nos Estados Unidos, o salão de Detroit de 2007 terá quatro expositores chineses e, recentemente, empresas de Pequim também estiveram no Salão de Paris e no evento em São Paulo. O objetivo da China é claro: depois de conquistar vários mercados com produtos de baixa tecnologia, querem também concorrer em itens de alto valor agregado.
Por enquanto, os volumes de exportação são baixos. Mas tanto na Europa, Estados Unidos e mesmo no Brasil, o surgimento de carros chineses no mercado inquieta os produtores locais. Não por acaso, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) já deixou claro ao Itamaraty que quer que o setor seja considerado 'sensível' na agenda de liberalização da Organização Mundial do Comércio (OMC). O temor seria uma futura invasão de carros chineses nos próximos dez anos a baixo custo.
Em 2005, os chineses exportaram menos de 10 mil veículos. Mesmo assim, o volume foi 167% acima das vendas de 2004. Para este ano, um aumento similar está sendo esperado. A maioria dos carros está indo para economias em desenvolvimento, como Egito, Malásia, Síria, Rússia, Venezuela, Argélia, Colômbia e Paquistão.
Para especialistas, os veículos chineses ainda não apresentam a mesma qualidade tecnológica ou padrão de segurança de outros fabricantes europeus ou americanos. Mas Pequim promete continuar avançando na produção, enquanto começa a fechar acordos com distribuidores dos países ricos para abrir terreno para seus veículos nos próximos anos.
Há poucos meses, uma empresa alemã acertou um contrato com a Brilliance Jin Bei Automobile para distribuir os carros chineses na Europa e montar uma rede de concessionárias, assim como japoneses fizeram nos anos 70 e 80 e os coreanos mais recentemente. A fabricante chinesa tem base em Shenyang e lançará ao público europeu seu modelo BS6 no Salão de Genebra, em março.
Além das empresas chinesas, outra tendência é de que haja quantidade cada vez maior de companhias de países ricos estudando montar fábricas na China para exportar ao mundo com custos mais baixos graças à mão-de-obra mais barata. A primeira delas foi a Honda, que exporta para Europa e Japão carros de sua fábrica no sul da China. A DaimlerChrysler pode ser a próxima a seguir esses passos, já que negocia uma joint venture com a Chery, da China, para exportar para o mercado americano.
No Congresso americano, um relatório produzido nesta semana por deputados apontou que se a Casa Branca não começar a tomar medidas, o setor automobilístico dos Estados Unidos poderá sofrer na próxima década para competir com os carros chineses.
Prova de como a tendência começa a inquietar as grandes potências, uma disputa foi lançada na semana passada na OMC por conta dos impostos cobrados pelos chineses sobre autopeças. Americanos, europeus e canadenses abriram uma queixa, alegando que Pequim estaria cobrando taxas inferiores para a importação de autopeças se as companhias garantissem 60% fabricado na China usaria partes produzidas localmente.