Título: Lula defende voto em lista partidária
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Nacional, p. A7

Pela primeira vez depois de reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enumerou o que seriam três pontos essenciais da reforma política que prometeu na campanha - pacote anunciado como 'prioridade' por Lula após a votação. Em entrevista a três jornais europeus, Lula disse que, para renovar o quadro partidário, uma reforma política deve aprovar a fidelidade partidária, adotar o financiamento público de campanhas e o sistema de listas partidárias - pelo qual o partido organiza a ordem em que seus candidatos devem ser eleitos e o eleitor vota na lista fechada. Ele deixou claro, porém, que a reforma deverá ser 'obra dos partidos e do Congresso'.

O presidente listou esses três pontos em entrevista aos jornais Le Figaro, da França, La Repubblica, da Itália, e El País, da Espanha, na última quarta-feira, antes de partir para um período de descanso na Bahia. Segundo o Figaro, o presidente tratou a reforma como medida necessária para evitar os escândalos de financiamento ilegal das campanhas eleitorais.

Lula disse que seu governo empreendeu uma batalha contra a corrupção só comparável à Operação Mãos Limpas levada a cabo na Itália. Referia-se à ação, iniciada em 1992, que desvendou as conexões da máfia com o poder público italiano e fez mais de mil prisões entre políticos, empresários e 'capos'.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

CRESCIMENTO

O presidente Lula disse que colocou a 'casa em ordem', depois de quatro anos de sacrifícios para equilibrar as contas, e o Brasil pode passar para uma nova etapa, de crescimento mais vigoroso. Com a mesma fórmula adotada em debates e comícios da campanha, assinalou que a inflação está em baixa, a miséria recua e a taxa de juros básica continuará em queda. Mas ponderou, indiretamente, que o receituário desenvolvimentista terá limitações. 'O controle da inflação continua a ser a prioridade, por conta de seu impacto considerável sobre a renda de muitos pobres. Nós não podemos permitir nenhum erro nessa área.'

PPP

Lula admitiu que a implementação das parcerias público-privadas, criadas em 2005, foi postergada pela campanha. Mas, ciente de que empresas européias serão parceiras em potencial, destacou esse sistema como principal meio de atração de investimentos para os setores de transportes e energia. Também chamou a atenção para investimentos projetados, que darão sustentação ao crescimento. Entre eles, os US$ 87 bilhões que a Petrobrás promete gastar nos próximos quatro anos.

CORRUPÇÃO

Na entrevista, Lula rebateu a pergunta sobre escândalos dizendo que o Brasil não é o único país a enfrentar problemas com financiamento ilegal dos partidos. 'A França já teve os seus', arrematou. Alegou que a reforma política não acabará com delitos no financiamento de campanhas e defendeu o combate à impunidade. O presidente assegurou, ainda, que dará apoio a um eventual projeto do Congresso capaz de renovar os partidos brasileiros, de tornar obrigatória a fidelidade partidária e de montar um sistema de financiamento público. 'Mesmo com uma boa lei, haverá sempre pessoas que queiram violar a lei.' E emendou: 'Meu governo lançou uma batalha contra a corrupção que tem apenas um precedente: a Operação Mãos Limpas, na Itália.'

HEGEMONIA

Para Lula, a integração sul-americana continuará a ser a prioridade da política externa, porque o Brasil tem fronteira com 9 dos 11 outros países da América do Sul. Sua receita envolve o impulso ao desenvolvimento dos vizinhos. 'Nós queremos abolir do nosso dicionário o termo 'hegemonia'. O Brasil não será o líder de seus vizinhos, mas um parceiro', avisou.

CHÁVEZ E MORALES

Declarou que o presidente Hugo Chávez 'é bom para a Venezuela'. Acrescentou que Chávez foi o único líder do país a se preocupar com os pobres nos últimos 30 anos. Sem mencionar os prejuízos da Petrobrás na Bolívia, afirmou que Evo Morales 'está certo ao defender os interesses' de seu país.