Título: Enfraquecido, Maia antecipa corrida de 2008
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Nacional, p. A14
A máxima de que uma eleição termina para começar outra valeu no Rio antes até da abertura das urnas. Com o governador eleito Sérgio Cabral (PMDB) favorito desde o começo - embora a disputa tenha ido para o segundo turno -, a maioria de seus adversários fez campanha já de olho na prefeitura da capital. A eleição estadual deixou vários pretendentes à sucessão do prefeito Cesar Maia (PFL), que está fragilizado e tem o desafio de encontrar um sucessor para a disputa de 2008.
Eleito com apoio de um leque que vai do PP do senador eleito Francisco Dornelles ao PT da ex-governadora Benedita da Silva, Cabral saiu das urnas consagrado como habilidoso articulador político. Na avaliação da historiadora Marly Motta, da Fundação Getúlio Vargas, su ampla vitória o credencia para substituir o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) como o principal opositor de Cesar Maia, enfraquecido pelos resultados eleitorais de seus candidatos à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), e ao governo, Denise Frossard (PPS).
'Garotinho já tinha depositado as armas diante do domínio de Maia na capital', opina Marly. 'Cabral não poderá fazer isso. A capital é a cidade dele.'
O deputado Moreira Franco (PMDB) diz que o fato de Maia não poder concorrer em 2008 - foi reeleito em 2004 - é uma oportunidade para o PMDB. 'Não sei qual é a estratégia que Cabral vai adotar, mas evidentemente é importante para o partido conquistar a capital.'
O governador eleito, no entanto, já foi derrotado duas vezes por Maia. Perdeu para o próprio em 1992 e foi derrotado pelo candidato do prefeito, Luiz Paulo Conde, em 1996.
O cacife político de Cabral dependerá do resultados do dois primeiros anos de governo. Por isso, o vice-governador eleito, Luiz Fernando Pezão, acredita que ele não deve influenciar muito na eleição de 2008. 'Todo partido que tem governador é forte, mas Cabral não deve se envolver diretamente. Ele teve o apoio de quase todo mundo e terá um governo para cuidar.'
Se Cabral precisa mostrar serviço para influenciar a disputa de 2008, o mesmo se pode dizer em relação a Maia, que pretende consolidar sua imagem de bom administrador com os Jogos Pan-Americanos de 2007, que serão no Rio. A votação expressiva que Frossard teve na cidade, nos dois turnos, mostra que o prefeito ainda mantém sua força. Mas ele não tem um sucessor natural e dificilmente voltará a apoiá-la.
'Não acredito que ele aposte nela. A grande credencial que Denise mostra é a segurança, mais voltada para o governo estadual. Ela não se preocupou em se identificar com Maia na imagem de boa administradora', opina Marly. Frossard não quer falar sobre o assunto: 'Estou fechada para balanço.'
No primeiro turno, ela venceu Cabral na capital, por margem apertada. No segundo perdeu, mas mesmo assim teve na cidade quase 41,45% dos votos, 10 pontos porcentuais a mais do que sua média estadual.
Dos candidatos derrotados por Cabral, o que mais se movimentou de olho na prefeitura do Rio foi o deputado Eduardo Paes (PSDB). Ele passou toda a campanha batendo na candidata de Maia e no segundo turno ignorou a orientação de neutralidade do partido e apoiou Cabral. Mas seu comportamento dividiu os tucanos e o vice-prefeito Otávio Leite (PSDB), eleito deputado federal, pode disputar com ele a candidatura.
No PT, Vladimir Palmeira é outro derrotado por Cabral que usou a campanha para o governo do Estado para se credenciar no partido. Ele diz ter sido convocado pelo campo majoritário para trazer de volta a campanha de militância. Para concorrer à prefeitura, teria de disputar a indicação com o grupo de Benedita, que está cada vez mais próxima de Cabral.
'Temos mais espaço agora. Mas ainda há muita coisa para acontecer nesses dois anos', disse Palmeira. 'O Rio é o campo político mais complicado do País', avaliou, referindo-se a outros nomes que já se apresentam para disputa de 2008, como o senador Marcelo Crivella (PRB) e a deputada Jandira Feghali (PC do B), derrotada na disputa para o Senado.