Título: Receita de serviços amplia lucro dos bancos
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Economia, p. B3

Seja com inflação, juros altos ou economia desaquecida, os bancos sempre arrumam uma saída para ganhar dinheiro e ter lucros invejáveis. Diferentemente do que se imaginava, essas instituições conseguiram se adaptar perfeitamente à estabilidade da economia brasileira e substituíram, com eficiência, os ganhos inflacionários pela cobrança de tarifas, cada vez mais altas.

O economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, que estudou o assunto, lembra que no início do Plano Real havia a preocupação de que os bancos teriam dificuldade para sobreviver em um ambiente de estabilidade econômica. Isso porque, no passado, eles ganhavam com a inflação, investindo o dinheiro depositado pelos clientes em operações do overnight, o que rendia elevada rentabilidade. Com o fim desses ganhos, os bancos passaram a cobrar pelos serviços e substituíram perfeitamente os lucros inflacionários.

O presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, destaca, ainda, que antes do real as receitas de serviços representavam 40% das despesas de pessoal. Hoje, o ganho com tarifas já significa 130% da folha de pagamento. Além disso, em 1994, esse faturamento tinha participação de 2,5% nas receitas totais das instituições. Atualmente, esse porcentual é de 20%.

No primeiro semestre deste ano, as receitas de serviços dos bancos subiram em média 17,3%. Mas instituições como Bradesco e Santander Banespa viram o faturamento com tarifas subir mais de 20% só nos seis meses do ano, comparado com igual período de 2005.

O terceiro trimestre não tem sido diferente. As receitas de prestação de serviço do Itaú, que na terça-feira apresentou balanço do período de janeiro a setembro, subiram 18%, para R$ 6,6 bilhões. O banco teve lucro de R$ 3 bilhões no período, apesar da amortização de ágio pela compra do BankBoston, o que teve impacto negativo de R$ 1,76 bilhão.

Na avaliação de Rodrigues, o espaço para elevar ainda mais as receitas de prestação de serviços é grande. Isso porque ainda há serviços que não são cobrados, como é o caso da internet. Uma hora ou outra, eles vão acabar cobrando por esses serviços, alerta o executivo.

Outra explicação para as receitas de serviços é o crescimento da base de clientes e expansão dos cartões de crédito. Atualmente, as operações de crédito, que crescem a uma média de 20% ao ano, também têm contribuído para o aumento do faturamento com tarifas. Junta-se a isso o crescimento das áreas de administração de recursos de terceiros, com a popularização dos fundos de investimentos, como os DI e Renda Fixa. Nesses produtos, os clientes pagam uma taxa de administração sobre o valor aplicado.

O analista da consultoria Lopes Filho, João Augusto Salles, afirma que os bancos podem elevar as tarifas sem qualquer restrição. O que vai ditar o ritmo da alta é a concorrência entre as instituições. Ou seja, por enquanto, a competição entre bancos é pequena, pois o custo dos serviços não pára de subir acima da inflação.