Título: Governo perde votação para ministro do TCU
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2006, Nacional, p. A5
O primeiro teste de coesão da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara para o sonhado governo de coalizão no segundo mandato fracassou. Ajudada pelo voto secreto, pelo racha da base e por uma falha de articulação do governo, a oposição derrotou ontem os aliados de Lula, elegendo o deputado Aroldo Cedraz (PFL-BA) para uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O petista Paulo Delgado (PT-MG) havia sido escolhido em uma votação prévia entre os aliados, mas não conseguiu no plenário nem os votos dos parlamentares que participaram da escolha preliminar. Dos 337 integrantes da base, 215 participaram da prévia. Na eleição, Delgado obteve 148 votos e Cedraz, 172. Houve 399 votantes.
Uma das tarefas do TCU é aprovar ou rejeitar as contas do governo. Cedraz, que não conseguiu se reeleger, é ligado ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), opositor de Lula. Nos bastidores, a avaliação é de que o PMDB e o PP aproveitaram o voto secreto para atropelar acordo prévio com o PT e despejar votos no pefelista.
Outro fator teria pesado. Enquanto o governo sofria a derrota, o ministro encarregado da articulação política, Tarso Genro (Relações Institucionais), voava para a Itália. Participaria da assinatura de acordo entre o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado por Lula, o Conselho Nacional de Economia e Trabalho italiano.
'Fiz todo o possível para diminuir o atrito na base', comentou Delgado, lamentando a derrota. 'Estou saindo da política.'
AVANT-PREMIÈRE
'Implodimos a coalizão', comemorou o líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ). 'O governo não tem rumo, não tem articulação. Essa é a fotografia do novo governo Lula. Já começou velho', comentou o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). 'Se não tomar juízo, esta será uma avant-première da eleição para a presidência da Câmara.' O deputado Renato Casagrande (PSB-ES) fez previsão semelhante.
Eles se referiam à divisão da base na sucessão do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Mesmo com Aldo na disputa, o PT já lançou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O cargo de ministro do TCU é vitalício, com um salário de R$ 23.275 - 95% do vencimento de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) -, maior do que os R$ 12.847 de parlamentar.