Título: Delegado vê indícios de crime eleitoral de petistas
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2006, Nacional, p. A10

Em audiência reservada na CPI dos Sanguessugas, o delegado da Polícia Federal Diógenes Curado afirmou ontem que tem certeza de que foi Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), quem levou o R$ 1,75 milhão ao Hotel Íbis, em São Paulo, para a compra de dossiê contra políticos tucanos - o chamado dossiê Vedoin. A informação é do presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que ontem voltou a se manifestar contra a prorrogação dos trabalhos da comissão até meados de janeiro do ano que vem. Lacerda e outros petistas envolvidos no episódio deverão ser indiciados por crime eleitoral.

'O delegado afirmou que não tem dúvidas que o dinheiro foi levado ao local pelo Hamilton Lacerda', disse Biscaia. Em depoimento à CPI e à Polícia Federal, Lacerda afirmou que foi ao Hotel Íbis se encontrar Gedimar Passos para levar boletos da campanha de Mercadante ao governo de São Paulo. Gedimar foi preso com R$ 1,75 milhão pela PF.

À CPI, o delegado também disse que há 'indícios que configuram crime eleitoral' e deverá pedir o indiciamento de todos os envolvidos na compra do dossiê - Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas e Valdebran Padilha, além de Lacerda e Gedimar.

No depoimento, o delegado argumentou que, em sua avaliação, a maior suspeita de crime eleitoral recai sobre a campanha de Mercadante ao governo paulista, uma vez que o petista seria o maior beneficiado com o dossiê contra o governador eleito José Serra (PSDB). Segundo integrantes da CPI, Diógenes Curado fez questão de isentar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, apesar de pelo menos três personagens do caso integrarem o comitê do presidente.

Para a CPI, o depoimento de Diógenes Curado reforçou a suspeita de que o dinheiro que seria usado para comprar o dossiê tem origem no caixa 2 de campanha eleitoral. 'Existe a possibilidade de que o dinheiro seja de caixa 2 de campanha', observou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI. 'O delegado reconheceu a prática de crime eleitoral. Todas as provas levam a isso e também à conclusão de que parte do dinheiro teria vindo de caixa 2', completou deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Além de estar seguro de que Lacerda entregou o dinheiro a Gedimar, o delegado Curado informou que o ex-assessor de Mercadante teria usado um telefone frio, em nome de Ana Paula Cardoso Vieira, no período em que esteve no Hotel Íbis. No dia 15 de setembro, quando Gedimar e Valdebran foram presos com o dinheiro, Lacerda teria ligado do celular de Ana Paula 23 vezes para Jorge Lorenzetti, que também trabalhava na campanha à reeleição de Lula. Depondo à CPI, Lacerda afirmou que jamais usou o celular em nome de Ana Paula.