Título: A fórmula polêmica do maior laboratório de genéricos do País
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2006, Negócios, p. B16

Quem visita a sede do laboratório Medley, em Campinas, vê sinais evidentes de prosperidade. A fábrica, de última geração, opera 24 horas por dia. No terreno ao lado, operários constroem em ritmo frenético um novo prédio para duplicar a produção da companhia. A Medley tem pressa de crescer. Em menos de seis anos, a empresa saiu da 28ª para a 4ªposição no ranking da indústria farmacêutica. Hoje, é líder na venda de medicamentos genéricos e prevê encerrar o ano com faturamento de R$ 600 milhões. Mais: desde o ano passado, a companhia prepara a venda de suas ações na Bolsa de Valores. Estima-se que o laboratório tenha um valor de mercado de R$ 700 milhões.

A Medley, criada (com esse nome) há dez anos pela família Negrão, vive um momento interessante. Desde o ano passado, quando a concorrente Biosintética foi vendida à Aché, ela passou a ser cobiçada pela indústria de genéricos, principalmente por multinacionais.

Neste ano, a Medley deve atingir o melhor resultado da sua história: um lucro de R$ 30 milhões, de acordo com Jairo Yamamoto, presidente da companhia. É uma cifra três vezes maior que a do ano anterior e trinta vezes maior que a de dois anos antes, segundo o executivo. 'Nossos custos baixaram à medida que nossa escala aumentou', diz Yamamoto, homem de confiança da família Negrão - está à frente de negócios do clã desde antes da criação da Medley.

Na indústria farmacêutica, Yamamoto é sempre elogiado pela sua capacidade administrativa. 'Ele é um equilibrador de pratos. A Medley tem problemas com capital de giro', diz um empresário do setor. 'Ela dá descontos agressivos e pega dinheiro com bancos pequenos que cobram juros altos.'

Yamamoto não nega e diz que essa foi uma opção da empresa. 'Esse é o preço para crescer rápido. O mercado é para poucos e grandes', afirma Yamamoto. 'Até o ano passado, a gente trabalhava com bancos pequenos. Hoje, os bancos grandes, até por conta do projeto de abertura de capital, viraram nossos parceiros.'

Segundo o executivo, a Medley tem um endividamento de R$ 180 milhões. A maior parte da dívida é de curto prazo, para financiar o capital de giro. 'A gente se endivida para suportar essa dinâmica, que é comum no setor. A Medley dá prazo de pagamento de 100 dias', diz Yamamoto. Um executivo de uma multinacional do setor considera esse prazo muito longo. Segundo ele, a média é de 60 dias.

BOA VIDA

Enquanto a empresa se endivida, o seu principal acionista, Alexandre Funari Negrão, leva uma vida bem tranqüila. O empresário, que tem participação de 51% na Medley, deixou o dia-a-dia do laboratório há cinco anos. Hoje, reúne-se uma vez por mês com Yamamoto para acompanhar os números e discutir as questões estratégicas. As reuniões costumam durar o dia inteiro.

Nos outros dias, Negrão faz o estilo bon vivant. Hoje ele dedica parte do seu tempo para ajudar a carreira do filho, o também piloto Xandinho Negrão. Pessoas próximas contam que ele segue à risca o ditado popular que diz que caixão não tem gaveta. Uma de suas últimas extravagâncias foi assinar um cheque de cerca de R$ 2 milhões para comprar o Phantom, da Rolls-Royce.

O carro foi apresentado aos brasileiros pela primeira vez no ano passado, durante uma luxuosa exposição no Hotel Fasano. Negrão foi único a comprar um até agora. O modelo é feito sob encomenda. O de Alexandre tem duas cores, roda aro 20 e banco de couro feito à mão.

Apaixonado por máquinas, o empresário e piloto de carros de corrida é um dos três brasileiros que voam no jato Global Express 5000, da Bombardier. O modelo custa cerca de US$ 30 milhões. É o mesmo usado pelo presidente mundial da suíça Novartis, empresa que fatura US$ 32 bilhões por ano. 'A Medley paga bem seus funcionários e remunera bem seus acionistas', diz Yamamoto.

A sua mansão em Paraty, litoral do Rio de Janeiro, não fica atrás. A casa, avaliada em US$ 3 milhões, tem seis bangalôs, heliponto, academia de ginástica e uma piscina montada na areia sobre um rio cujo curso foi desviado.

A casa fica numa área de proteção ambiental. A advogada dele, Vanusa Agrelli, alega que a construção 'atendeu a todas as normas e exigências legais'. O Ministério Público, no entanto, já pediu à Justiça a demolição do imóvel.