Título: Lula indica que Mantega fica
Autor: Domingos, João e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou ontem que os principais nomes da equipe econômica podem ser mantidos em seu segundo mandato. Lula não foi afirmativo, mas sugeriu essa possibilidade ao conversar com jornalistas no almoço oferecido no Itamaraty ao presidente do Peru, Alan García. Indagado sobre a hipótese de substituir o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Lula respondeu: 'Tenho até o dia 31 para decidir sobre quem deve sair e quem deve ficar, sobre quantos ficam ou quantos saem. Esse time é ganhador, ganhei a eleição com ele. Não estou com pressa.'

Antes do almoço, o presidente recebeu no Palácio do Planalto o governador do Acre, Jorge Viana (PT), e seu sucessor recém-eleito, o também petista Binho Marques. Defensor da manutenção da política econômica, Viana interpretou as palavras de Lula no encontro reservado como uma indicação de que tanto Meirelles quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, serão preservados. 'A vitória nas urnas deveu-se em parte à política econômica. O povo a aprovou', disse o governador. 'Discordo de muitos companheiros do PT que, achando que perderiam a eleição, pediram mudanças na política econômica e a saída de auxiliares.' Segundo Viana, Lula concorda com essa avaliação.

No Itamaraty, o presidente afirmou estar menos aflito com a montagem da equipe do segundo mandato do que com a definição de iniciativas capazes de 'desobstruir alguma coisa na área da infra-estrutura e na área fiscal, para que a gente possa começar o ano dando um salto de qualidade'. E completou: 'Não estou preocupado em mudar governo. Só depois de fazer o que for preciso vou começar a pensar em que governo teremos.'

O presidente pretende conversar agora com os governadores eleitos e prefeitos para fechar projetos de desenvolvimento. 'Ainda em dezembro quero fazer um pacote com obras e de desoneração do setor produtivo', afirmou.

Aos atuais ministros, Lula tem dito que não pretende acelerar definições sobre a equipe. Vem sugerindo ainda que está mesmo disposto a enfrentar o PT, para reduzir a fatia do partido no primeiro escalão. 'Lula não vai ceder', acredita um interlocutor do presidente.

Integrantes do pelotão que se encontra na linha de tiro, a maioria dos ministros e secretários de Estado, têm dado sinais de que gostariam de permanecer no cargo - o que pode produzir conflitos mais duros, pois Lula pretende entregar uma larga fatia desses cargos ao PMDB. Lula diz estar gostando de ser o próprio representante do governo nas negociações com políticos ávidos por cargos. Ele avalia que foi um erro delegar a tarefa a auxiliares no primeiro governo.