Título: MST invade mais duas fazendas no Pontal
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Nacional, p. A12

Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram mais duas fazendas, ontem, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado. Numa delas, encontraram três espingardas que seriam usadas por pistoleiros. Cerca de 100 militantes entraram na Fazenda Porto Maria, em Rosana, enquanto outro grupo com 70 sem-terra invadiu a Fazenda do Aprumado, em Rancharia.

Com as duas sobe para 6 o total de fazendas invadidas na região desde a fase final da campanha que reelegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O movimento retomou as ações depois de quase quatro meses sem qualquer iniciativa no Pontal. Segundo o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, as invasões marcam o fim da trégua dada pelo movimento para não prejudicar a campanha do presidente à reeleição.

De acordo com a assessoria de imprensa do movimento, as duas fazendas foram adquiridas por órgãos oficiais ligados à reforma agrária e não foram destinadas aos acampados. A Porto Maria tem 1.565 hectares e foi passada há dois anos ao Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp). De acordo com o MST, depois disso, 500 hectares daquela área foram repassados ao fazendeiro Miro Conti.

Os sem-terra querem ocupar os outros 1.065 hectares e ali assentar famílias. O Itesp informou que os 500 hectares foram cedidos ao proprietário como pagamento pela parte restante.

As três espingardas encontradas durante a invasão foram levadas à delegacia. Três pessoas, a quem elas pertenceriam, foram detidas e interrogadas no final da tarde de ontem. Líderes do MST sustentaram, diante da polícia, que as armas eram utilizadas por pistoleiros para perseguir os sem-terra.

A Fazenda do Aprumado, com 500 hectares, pertencia ao ex-governador do Estado Paulo Egydio Martins e foi adquirida com recursos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Segundo o MST, o objetivo da invasão - que ocorre pela quinta vez - é cobrar agilidade do Incra no assentamento das famílias. Nabhan estranhou que os sem-terra tivessem encontrado armas.

Segundo ele, dois dias antes a Polícia Militar fez uma busca na propriedade e nada encontrou. Ele lamentou a retomada das invasões: 'A reforma agrária não pode ser feita de forma criminosa.' Segundo ele, as ações, após a eleição, mostram que o movimento tem ligação política. 'Muitos integrantes estavam envolvidos com a campanha do PT.' O MST voltou a negar que tenha dado trégua ao governo no período eleitoral e diz que as invasões só vão parar quando forem assentadas as 1.500 famílias acampadas na região.