Título: Casa Branca teme avalanche de investigações
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Internacional, p. A14

Apesar das promessas de cooperação democrata, conservadores temem uma avalanche de investigações no Congresso nos próximos dois anos - o Iraque e as grandes corporações favorecidas pelo governo de George W. Bush serão os principais alvos. O primeiro sinal neste sentindo foi dado pelo deputado democrata Ike Skelton, futuro presidente da Comissão de Serviços Armados na Câmara. Skelton avisou que sua primeira tarefa é 'restabelecer a vigilância e investigação' na comissão.

'A fiscalização do Executivo praticamente desapareceu nos últimos seis anos e os democratas trarão de volta com força as investigações e questionamentos', diz Norman Ornstein, pesquisador do conservador American Enterprise Institute. Os principais temas de investigação serão grandes lucros da indústria de petróleo e farmacêutica, assistência à saúde, contratos de reconstrução no Iraque e Afeganistão, as condutas do governo na guerra e pedidos de divulgação de documentos secretos da Casa Branca. Segundo Ornstein, os democratas também se valerão das investigações para tentar influenciar a política no Iraque.

O impacto que o Congresso pode ter sobre a condução da guerra do Iraque é pelo bolso - os legisladores podem cortar recursos para o conflito. Mas os democratas já declararam que não farão isso. Segundo analistas, isso seria muito impopular. Mas acredita-se que o Congresso irá questionar fortemente iniciativas para o Iraque. 'Bush decide. Mas uma avalanche de críticas pode levá-lo a reconsiderar planos, embora ache improvável qualquer mudança drástica', diz John Fortier, diretor-executivo da Comissão de Continuidade de Governo.

A futura presidente do Congresso, a deputada democrata Nancy Pelosi, no entanto, não crê em caça às bruxas. 'Tem gente dizendo que chegou a hora de os democratas se vingarem. E eu digo: nós não vamos nos vingar. Nós vamos ajudar os americanos a avançarem. Essa é a nossa prioridade', disse.

'Claro que o Congresso precisa investigar e fiscalizar o Executivo. O povo americano precisa saber sobre o (furacão) Katrina, sobre licitações, sobre (a empreiteira) Halliburton e Iraque. Acho que esses são três temas nos quais as investigações seriam necessárias', prosseguiu Nancy.

O novo Congresso abre espaço para colaboração de democratas conservadores, já apelidados de 'democratas Lou Dobbs' - referência ao comentarista conservador da CNN. Um exemplo é Heath Schuler, novo deputado Carolina do Norte, contra o aborto e ligado a grupos religiosos.

E em relação às investigações, os democratas não podem exagerar - ou correm o risco de uma reação como a sofrida pelo ex-presidente do Congresso Newt Gingrich, ao impor sua sanha investigativa contra Bill Clinton. Os eleitores puniram os republicanos em 1998 com a perda de algumas cadeiras.