Título: Derrota republicana divide iraquianos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Internacional, p. A19

Os iraquianos estão divididos com a perspectiva de redução das tropas dos EUA, intensificada com a renúncia, na quarta-feira, do secretário de Defesa americano Donald Rumsfeld - um dos principais arquitetos da guerra no Iraque.

A maioria xiita comemorou a derrota republicana nas eleições e a conseqüente queda de Rumsfeld. 'A política americana no Iraque é um fracasso e a saída de Rumsfeld revela o grau de desordem que eles causaram em nosso país', disse Ibrahim Ali, funcionário do Departamento de Petróleo de Bagdá. 'A demissão é uma ótima notícia, porque ele falhou com os iraquianos', comentou Saad Jawad, um militar xiita aposentado.

Alguns vão mais longe e afirmam que a saída de Rumsfeld não é suficiente. 'Ele deveria ser investigado pelos abusos cometidos na prisão de Abu Ghraib e pelos assassinatos e estupros que os americanos cometeram aqui', disse Osama Ahmed, um pedreiro xiita morador da capital.

Depoimentos de muitos xiitas reafirmam o resultado de uma pesquisa divulgada em setembro, na qual 65% dos iraquianos pediam a retirada imediata das tropas dos EUA. 'Os americanos são um grande empecilho às nossas ambições. O Iraque vai se estabilizar assim que eles saírem', disse Mohammed Khalil, um vendedor de chá xiita de Bagdá.

Em entrevistas às agências de notícias, alguns sunitas concordaram com essa opinião: 'Os americanos plantaram o conflito sectário no Iraque. Agora, eu gostaria de vê-los fora daqui', afirmou Saddon al-Zubaidi, conselheiro do bloco sunita no Parlamento.

A maioria dos sunitas, entretanto, se mostrou receosa com a vitória democrata.

Abu Abullah, de Mossul, afirmou que a etnia minoritária entre os iraquianos precisa da proteção dos americanos contra as milícias xiitas. 'Eu prefiro que os EUA fiquem no Iraque porque, se eles saírem, as milícias vão se fortalecer e a violência vai crescer.'

Para Adnan Pachachi, um político sunita, 'as forças americanas são essenciais para controlar a violência sectária no país'.

'Não esperamos nada de bom dos democratas. Pelo menos as intenções dos republicamos nós conhecíamos', reclamou o senador sunita Adan al-Dulaimi.

'É preocupante saber que o Congresso pode pressionar o presidente dos EUA para retirar as tropas, porque ainda não temos uma força de segurança bem treinada', disse Muhammad Nerous, um paramédico de Bagdá.