Título: Ataque mostra paralisia de Olmert e falhas do Exército
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Internacional, p. A20
O ataque ao vilarejo de Beit Hanun evidenciou dois aspectos já claros para os que acompanham a realidade israelense. O primeiro é a deterioração das Forças de Defesa de Israel, que têm cometido erros inaceitáveis em recentes campanhas militares no Líbano e na Faixa de Gaza e matado dezenas de civis. O segundo é a paralisia do primeiro-ministro Ehud Olmert, aparentemente incapaz de controlar os militares e seguir uma linha política clara. Esses dois pontos foram os mais levantados por analistas políticos ouvidos ontem pelo Estado.
Apesar da retórica de Olmert - que convidou ontem o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, para uma reunião -, a maioria dos especialistas não acredita que o incidente em Beit Hanun acabe impulsionando negociações. Tudo segue na estaca zero.
'Minha suposição é que esse evento calamitoso não vai mudar o modus operandi do governo ou do Exército, que atuam sob a doutrina básica de que só usando a força Israel atingirá seus objetivos em relação aos palestinos', opina Oren Barak, professor de relações internacionais da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em editorial, o jornal liberal Haaretz pediu justamente uma mudança de paradigma após a tragédia em Beit Hanun: 'Em vez de mais e mais operações militares sem sentido, que não levarão a nada, a não ser à incitação de mais ódio, temos de tentar traçar um caminho completamente diferente. Temos de embarcar numa operação diplomática.'
O professor de ciências políticas Gerald Steinberg, da Universidade Bar Ilan, concorda que nada mudará em termos políticos. Mas tem outra explicação: 'Olmert pode se encontrar com Abbas o quanto quiser, mas isso não vai levar a nada. Abbas não manda nos territórios palestinos. Quem manda é o Hamas, que se recusa a reconhecer Israel. Com eles não há conversa', acredita Steinberg.
Para especialistas, se algo vai mudar é a utilização, pelo Exército, de canhões na fronteira com a Faixa de Gaza. 'A imprecisão dos canhões é inegável. Usá-los contra áreas densamente povoadas é um risco que não podemos correr', afirma o deputado Ran Cohen, do partido de esquerda Meretz.
Analistas israelenses também apontam erros da liderança palestina, que não consegue conter os extremistas, e da comunidade internacional - que, segundo eles, parece ter lavado as mãos na questão do conflito entre israelenses e palestinos. 'Foi um erro técnico. Mas não só dos canhões. Todos erramos. O governo, o Exército, os palestinos e o mundo', opinou a jornalista Sima Kadmon no diário Yediot Ahronot.