Título: Gaza sepulta vítimas de Israel com dor e fúria
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Internacional, p. A20

Um dia depois da morte de 19 civis palestinos vítimas de balas de canhão israelenses no vilarejo de Beit Hanun, no norte da Faixa de Gaza, o governo de Israel afirmou que vai reavaliar a utilização de fogo de artilharia na fronteira com a região, mas não suspenderá os ataques. Enquanto Israel anunciava essa decisão, dezenas de milhares de palestinos participavam, num clima de dor e fúria, dos funerais das vítimas da artilharia israelense em Beit Hanun.

Mascarados e armados, grupos de extremistas atiraram para o alto durante os funerais, jurando vingança. 'Os assassinos israelenses nunca poderão derrotar as crianças palestinas', disse um dos participantes.

A artilharia estava sendo usada havia quase um ano pelo Exército de Israel como estratégia para conter o lançamento diário de foguetes Qassam por extremistas palestinos contra Israel. De agora em diante, segundo o ministro israelense da Defesa, Amir Peretz, a artilharia só poderá ser acionada sob aprovação pessoal do general Yoav Galant, responsável pelo Comando Sul do Exército, ou seus superiores. Segundo o relatório da investigação sobre o ataque, houve um problema técnico no radar do canhão usado contra Beit Hanun. O radar havia sido substituído na semana passada. Como resultado, em vez de atingir um grupo de militantes palestinos, uma bateria de sete balas caiu a 500 metros do local previsto, atingindo sete casas num bairro residencial.

Durante uma conferência econômica em Tel-Aviv, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse estar 'muito agoniado' com a morte dos civis. Mas afirmou que as operações militares na Faixa de Gaza vão continuar até que o lançamento de foguetes Qassam acabe de vez. 'Não vamos parar', afirmou. 'Vamos tomar precauções para tentar evitar erros. Não seria sério prometer que eles não acontecerão. Eles podem ocorrer.'

Ontem, pelo menos oito foguetes atingiram Israel. Um deles caiu numa loja de Sderot, ferindo três pessoas.

Olmert também convidou publicamente o presidente palestino, Mahmud Abbas, para um encontro 'em qualquer lugar, a qualquer hora, sem precondições', acrescentando: 'Tenho muito a oferecer.' Ele não deu detalhes.