Título: PF prende bando por fraude com ações da Petrobrás
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2006, Economia, p. B5

A Polícia Federal desarticulou ontem uma quadrilha que, segundo as investigações, preparava uma venda fraudulenta de ações no valor de R$ 120 milhões no mercado financeiro. Batizada de Operação Reação, a apuração monitorada pelo Ministério Público Federal foi desencadeada há um ano.

O alvo principal do esquema eram papéis da Petrobrás, mas outras empresas estavam na mira, como a Companhia Vale do Rio Doce. Sete suspeitos foram presos em São Paulo e no Rio. Além, disso foram cumpridos 45 mandados de busca e apreensão, que resultaram no confisco de três veículos e vários documentos.

As ações da Petrobrás que eram alvo da fraude estavam sob custódia de uma agência do Banco do Brasil em São Paulo. A PF chegou a pedir a prisão de um gerente da instituição, mas o pedido foi negado, informou o chefe do Núcleo de Operações da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, delegado Fábio Andrade.

Das detenções feitas ontem, cinco foram em São Paulo e duas no Rio. Após serem denunciados, os envolvidos poderão ser indiciados pelos crimes de falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha.

No Rio, a PF só revelou o nome de dois envolvidos, do empresário Fernando Cézar, morador de Irajá, zona norte do Rio, e o economista Henrique Mitão, preso em Ramos, também na zona norte. Ele chegou a pular do segundo andar de seu prédio para escapar, mas quebrou a perna.

Segundo o delegado, um dos carros apreendidos está em nome de um dos acionistas que seriam lesados na transação. Isso pode indicar que a quadrilha teria conseguido concretizar algumas operações.

As investigações tiveram início com a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos, autorizada pela Justiça. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que fiscaliza e regula o mercado financeiro, não foi avisada por causa do sigilo da investigação. Andrade diz que originalmente a quadrilha realizava clonagem de cartões de crédito e queria migrar para a fraude eletrônica, com a ajuda de um hacker. Há ainda indícios de crimes desse grupo em Salvador (BA).

No entanto, o esquema final acabou sendo montado com falsificações de documentos de identidade e CPFs. Assim, por meio de procurações falsas e contas bancárias fraudulentas, integrantes da quadrilha se passavam por procuradores de um grupo de acionistas, com o intuito de vender as ações, por meio de Ordens de Transferência de Ações (OTAs). Mas a PF avisava o banco dessas operações e conseguia bloquear as ações.

'Como estávamos controlando os passos da quadrilha, conseguíamos detectar quando eles davam entrada na ordem de transferência de ações. Então, de certa forma, bloqueamos o interesse final deles, que era conseguir vender as ações no mercado financeiro', diz Andrade.

O esquema começou com um corretor do Rio com acesso a uma lista de acionistas. Segundo o delegado, há duas relações conflitantes, uma com 42 nomes e outra com 25. As investigações ainda vão identificar o número de vítimas da fraude.