Título: Em cidade do Sul, prefeito acha investimentos 'desnecessários'
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Nacional, p. A12

Na frieza das estatísticas, o pequeno município de Montauri, a 250 quilômetros de Porto Alegre, é um dos poucos do Rio Grande do Sul que não têm serviço de assistência social para seus moradores além de um posto de saúde e ambulância para levar pacientes a Passo Fundo, a 60 quilômetros. Na prática, a prefeitura se atrasou para criar o conselho, o fundo e uma secretaria ou departamento municipal de assistência social por não ter problemas como moradores de rua, menores abandonados ou fora da escola nem necessidade de equipamentos como creches ou abrigos, explica o prefeito Jairo Roque Roso (PMDB). 'Já fui questionado sobre isso, mas expliquei que os investimentos seriam desnecessários', revela.

Apesar da justificativa, o administrador diz que terá de criar as instituições ligadas à assistência social para habilitar o município às verbas do Fundo Nacional de Assistência Social. E promete dar o primeiro passo em janeiro, nomeando a assistente social Veridiana Zanela, aprovada em concurso, para montar a estrutura exigida pela legislação. 'Queremos criar a Casa do Idoso para oferecer lazer e convivência a aposentados', anuncia, pensando no início dos projetos de assistência.

Montauri não é um paraíso, apesar dos indicadores sociais invejáveis - nenhuma criança fora da escola, mortalidade infantil zero em 2005, expectativa de vida de 73,8 anos, nenhum sem-teto e PIB per capita de R$ 18,4 mil. 'Há casos de alcoolismo e de maus-tratos a crianças', diz a ex-conselheira tutelar e atual vereadora Maria Meneguzzi (PP), indicando as possíveis tarefas do sistema de assistência social a ser montado.

A discussão não está na pauta da maioria dos 1.600 moradores do município, movido pela agricultura familiar e por criações de aves, suínos e gado leiteiro. A dona de casa Teresa De Moreschi, de 68 anos, quebrou a perna num acidente doméstico há dois anos e completou a recuperação há três meses. Cirurgia, implante de pinos e sessões de fisioterapia foram feitos em Passo Fundo, com viagens pagas pela prefeitura e tratamento acompanhado pelo único médico local. Ela não se queixa. 'Vivemos bem aqui e podemos nos virar.'

O agricultor Luiz Elírio Daros, de 53 anos, trata da coluna em Passo Fundo, mas elogia o atendimento básico do posto de saúde e a oferta de transporte para cidades com recursos hospitalares.Também destaca, orgulhoso, que Montauri não tem mendigos nem violência.