Título: Bush estuda nova estratégia para Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Internacional, p. A13
O presidente americano, George W. Bush, disse ontem que o relatório de uma comissão bipartidária pedindo grande mudança na política para o Iraque é um importante documento, mas indicou que considerará apenas algumas das várias recomendações enquanto traça uma nova estratégia. Ao lado de seu principal aliado na guerra, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Bush reconheceu que 'as coisas vão mal no Iraque' ao ser questionado por um jornalista sobre a atual situação no país do Golfo Pérsico. Os dois líderes se reuniram na Casa Branca um dia após o Grupo de Estudo para o Iraque divulgar um relatório dizendo que a política dos EUA no Iraque fracassou e uma grande mudança de curso é necessária, incluindo a retirada das tropas de combate em 2008.
Apesar de muitas recomendações derivarem da chamada 'escola realista' de política externa, o relatório não esclarece se uma política radicalmente distinta poderia fazer muita diferença quase quatro anos após a invasão do Iraque, assinalou ontem The Washington Post.
Blair, que apoiou Bush desde o início da invasão do Iraque, em março de 2003, saudou as conclusões do Grupo de Estudo, apesar de suas críticas às políticas que vêm sendo adotadas. '(O relatório) oferece um ótimo caminho', disse Blair. 'As conseqüências de um fracasso são graves.'
Os presidentes do Grupo de Estudo, o ex-secretário de Estado republicano James Baker e o ex-deputado democrata Lee Hamilton, deram ontem mais explicações sobre o relatório no Comitê das Forças Armadas do Senado. Eles pediram que o Congresso pressione Bush a aceitar as propostas em sua totalidade.
Questionado durante entrevista coletiva sobre quando começaria a aplicar as recomendações, Bush disse que outros estudos estão sendo feitos pelo Pentágono, o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional. 'Não acho que Jim Baker e Lee Hamilton esperem que aceitemos todas as recomendações.' Bush informou que prepara um discurso para expor sua nova estratégia - o que deve ocorrer, segundo a Casa Branca, até o fim do ano.
O relatório Baker-Hamilton, que contém 79 recomendações, diz que a política de Bush no Iraque não está funcionando, alerta que a situação 'é grave e está se deteriorando' e propõe que a maior parte das tropas de combate dos EUA seja retirada até o começo de 2008. Bush disse que os EUA só retirarão suas tropas até 2008 se houver condições: 'Temos de ser realistas e flexíveis ao elaborar programas e determinar o número de soldados que permanecerão no país.'
Tanto Blair como Bush concordaram que o sucesso no Iraque depende da vitória sobre os extremistas no Oriente Médio, endossando uma das recomendações do relatório. Mas Bush rejeitou a proposta de diálogo direto com Síria e Irã para obter sua ajuda na estabilização do Iraque, a não ser que Teerã e Damasco mudem de comportamento. 'Os países que participam das conversações não podem financiar o terrorismo, precisam ajudar a jovem democracia a sobreviver e ajudar a economia do Iraque', disse Bush. 'Se Síria e Irã não estiverem comprometidos com esse conceito, então nem precisam aparecer.'
Bush descartou a possibilidade de retomar o diálogo direto com o Irã enquanto a república islâmica continuar com suas atividade de enriquecimento de urânio e criticou a obstinação de Teerã nesse sentido.
O chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, afirmou que os EUA não precisam conversar com Teerã para tentar melhorar a situação no Iraque, mas sim retirar suas tropas desse país. O Irã, contudo, não rejeitou um diálogo se Washington 'mudar sua atitude e política'.
Por sua vez, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse ser um erro relacionar o conflito árabe-israelense com problemas regionais mais amplos no Oriente Médio e descartou qualquer contato imediato com a Síria, por causa de seu apoio a movimentos radicais. Já a Síria qualificou o relatório de 'objetivo', principalmente ao destacar o papel que os países vizinhos poderiam desempenhar na estabilização do Iraque.
Para políticos iraquianos ouvidos pelo Washington Post, o relatório é uma receita, apoiada em ameaças, que não resolve a crise nem compreende as forças complexas que alimentam o conflito. 'O objetivo do relatório é solucionar os problemas americanos, não os do Iraque', declarou ao Post um destacado político sunita, Ayad al-Sammarai.