Título: Outro russo ligado a ex-espião é hospitalizado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Internacional, p. A14

A trama russa que começou com o envenenamento do ex-espião Alexander Litvinenko deixou ontem mais um personagem internado em estado crítico: o russo Dmitri Kovtun, empresário e também ex-agente da FSB (serviço secreto russo). De acordo com nota divulgada pela procuradoria-geral russa em Moscou, 'Kovtun desenvolveu uma doença também ligada a substância radioativa'.

O anúncio foi feito no mesmo dia em que Litvinenko, morto no dia 23 de novembro, foi enterrado em Londres. Ele era casado e tinha um filho de 12 anos.

Kovtun foi um dos primeiros interrogados no caso, anteontem - não se sabe se como testemunha ou potencial suspeito. Ele e outro ex-agente, Andrei Lugovoi, estiveram com Litvinenko em 1º de novembro, dia em que o ex-espião começou a passar mal. Litvinenko morreu envenenado pelo elemento radioativo polônio-210.

A agência de notícias russa Interfax, citando fontes anônimas, divulgou na noite de ontem que Kovtun estava em coma. A informação não foi confirmada por fontes oficiais. O advogado de Lugovoi, Andrei Romashov, que disse ter conversado com parentes de Kovtun, negou o coma. Eles teriam afirmado que o estado de saúde do ex-agente era 'o mesmo de quando esteve com os investigadores'. Lugovoi foi hospitalizado para fazer exames e seu encontro com os investigadores, previsto para ontem, foi adiado, ainda segundo o advogado.

A procuradoria-geral russa iniciou ontem investigação própria para apurar o assassinato de Litvinenko e a tentativa de assassinato contra Kovtun. A porta-voz da promotoria, Marina Gridnevae, levantou a possibilidade de investigadores russos serem enviados a Londres.

Os dois personagens-chave em Moscou, Kovtun e Lugovoi, alegam ter ido a Londres em 1º de novembro por causa de negócios e de futebol. Eles afirmam que se encontraram rapidamente com Litvinenko no bar do Hotel Millennium, no centro de Londres, para tratar de negócios, antes de assistirem a uma partida de futebol no estádio do Arsenal.

Traços de polônio-210 foram encontrados ao longo do percurso dos dois ex-agentes. A investigação detectou baixos níveis de radiação em dois pontos no estádio, na segunda-feira. Também foram encontrados traços de radiação, anteontem, na embaixada britânica em Moscou - os dois russos estiveram lá em novembro, para discutir o caso Litvinenko com oficiais britânicos. Ontem, a agência de saúde britânica anunciou que exames preliminares detectaram baixos níveis de radiação em sete funcionários do bar do hotel.

Num artigo publicado ontem no jornal russo Vedomosti e no Financial Times, o ex-primeiro-ministro russo Yegor Gaidar, de 50 anos, afirma estar certo de que sua repentina e misteriosa doença, ainda não diagnosticada, foi causada por envenenamento. Ele passou mal durante uma visita à Irlanda em 24 de novembro, um dia após a morte de Litvinenko.

Gaidar afirma ter excluído a possibilidade de as autoridades russas serem responsáveis, já que a morte de Litvinenko prejudicou gravemente a imagem da Rússia. Ele diz suspeitar que inimigos - confessos ou não - do governo russo podem estar por trás disso.