Título: Chávez diz que não imporá seu projeto
Autor: Paraguassú, Lisandra e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Internacional, p. A16
Depois de avisar que iria mudar a Constituição para garantir a reeleição indefinida na Venezuela, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, amenizou na noite de anteontem declarações sobre a suposta proposta de se perpetuar no poder. Na primeira das duas entrevistas concedidas durante visita a Brasília, ele disse que um homem não impõe um projeto pessoal ao país.
Chávez não fez comentários sobre a iniciativa anunciada na véspera pelo deputado chavista Carlos Escarrá de que a reforma constitucional vai alterar o conceito de propriedade privada. Ao deixar o Palácio da Alvorada, onde jantou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chávez disse por volta de meia-noite de quarta-feira que, se a mudança constitucional for realidade algum dia, será por uma decisão do povo. 'Porque na Venezuela acabou aquele tempo em que um homem ou um grupo tomava decisões e impunha uma Constituição', afirmou. 'A Constituição foi aprovada em referendo nacional pelos venezuelanos e qualquer mudança tem de ser por consulta popular.'
O regime chavista começou em 1998, quando ele venceu sua a primeira eleição. Em abril de 2002, sofreu um golpe de estado, que durou 48 horas. Com a vitória nas urnas no domingo, ele terá um mandato até 2011.
O presidente venezuelano contou que, durante o jantar no Alvorada, seu colega brasileiro brincou sobre a reeleição indefinida. 'Lula comentou que lhe perguntaram se ele tinha alguma preocupação sobre esse tema e ele respondeu que não tinha nenhuma, pois eu não serei candidato aqui (no Brasil)', disse o venezuelano. 'É uma resposta muito inteligente e muito à altura porque é um assunto próprio da Venezuela.'
Segundo Chávez, sua proposta de mudança constitucional não é um projeto pessoal. 'Em todo caso, é um tema que, há dois anos, alguém pôs na mesa. E se voltou a colocar no cenário durante a campanha', afirmou. 'Mas não é parte essencial do projeto nacional Simon Bolívar, que transcende medidas como essa, é um projeto econômico, socialista e humanista.'
O líder da Venezuela disse ainda que a América Latina passa por um 'terremoto político'. Após encontro no Palácio do Planalto com Lula, ele comentou as vitórias de candidatos de esquerda no continente e atacou o governo 'decadente' dos EUA em entrevista diante do palácio.
'Como disse o presidente (Rafa) Correa', disse Chávez, referindo-se ao presidente eleito do Equador, 'a América Latina está vivendo não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. É como um terremoto político'. Ele afirmou que recebe 'com interesse positivo' a recente declaração do subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon, de que na Venezuela há uma democracia. De acordo com o presidente, isso é 'coisa que o mundo sabe, mas que, enfim, Washington reconhece'.
Chávez pediu a Deus para ajudar Fidel Castro, que está doente, e contou que Lula lhe disse que deseja visitar o presidente cubano, em Havana.