Título: Na linguagem bíblica da ata, cada um entende o que quer
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Economia, p. B4

Assim que o Banco Central divulgou, na manhã de ontem, a ata do última reunião do Copom, analistas correram para tentar decifrar o documento. Pelo jeito, não conseguiram. Avaliações totalmente opostas pipocaram em sites e em agências de notícias. Para alguns, os diretores do BC confirmaram que a taxa Selic será reduzida num ritmo menor daqui para frente. Para outros, nova redução de 0,50 ponto na reunião de janeiro de 2007 é certa.

Discordâncias à parte, um fato é inegável: o vocabulário utilizado nas atas do Copom é um capítulo especial na condução da política monetária no Brasil. É um dialeto que vai além do português e até mesmo do economês. Talvez seja o 'Copomês'. A cada nova ata divulgada, uma palavra ou expressão intriga os analistas. A de ontem foi 'prospectivo', citada quatro vezes (seu feminino apareceu em duas ocasiões).

Afinal, o que quis dizer o Copom com o adjetivo? Será que está mais preocupado com o futuro do que com o passado? Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, não tem dúvidas. 'Sim, eles (os diretores) estão se referindo ao cenário daqui para frente.'

Em abril, o Copom usou pela primeira vez no ano outra palavra que hipnotizou os analistas: parcimônia. Dizia o documento: 'A preservação das importantes conquistas no combate à inflação... poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia.'

Outro analista considera a linguagem das atas 'concisa e hermética'. Ele lembra que uma das maiores qualidades do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), é o poder de comunicação. 'O Fed ajusta alguns pontos apenas usando apenas as palavras', observa. 'A linguagem do Copom parece bíblica. Cada um interpreta como quer.' Exatamente como ontem.