Título: Copom mantém dúvida sobre juro
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Economia, p. B4

O ajuste fiscal (controle dos gastos) ainda pendente de definição e o cenário para o comportamento da inflação são os principais indicadores de que o Comitê de Política Monetária (Copom) pretende diminuir o ritmo de queda na taxa básica de juros (Selic). Apesar de manifestar a necessidade de distinguir, nos próximos meses, os reajustes pontuais dos reajustes generalizados dos preços, a ata da última reunião do Copom, divulgada ontem, não indica pessimismo em relação à expectativa de controle da inflação e, por isso mesmo, não fechou as portas para novos cortes de 0,5 ponto porcentual na Selic, hoje em 13,25% ao ano.

O documento, porém, não abandona a expressão 'maior parcimônia', interpretada como sinal de que o BC deseja agir com maior conservadorismo nas próximas reuniões. A novidade, dessa vez, é que o Copom retirou o condicionante 'poderá' e enfatizou que essa maior parcimônia na política de juros será adotada 'a partir de determinado ponto'. Mas os diretores do Banco Central não definem qual será esse ponto de inflexão da política monetária.

O fato é que a ata divulgada ontem ainda chama a atenção para a questão fiscal, que os diretores definem como 'impulsos fiscais', desta vez direcionados para o próximo ano. O governo está discutindo há mais de um mês medidas de controle dos gastos e de estímulo ao crescimento, mantendo indefinido o cenário fiscal para 2007. Apesar disso, a ata considera que o governo não irá se afastar da meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para o superávit primário (economia de recursos para pagar os juros da dívida) deste e do próximo ano.

A economista-chefe do banco ABN Amro, Zeina Latif, disse ao Estado que a ata deixou claro que o BC vai levar mais em conta a tendência da inflação do que os dados divulgados no curto prazo. Para ela, essa indicação está no parágrafo 19 do documento, ao considerar que a avaliação das decisões alternativas de política monetária deve concentrar-se 'necessariamente na análise do cenário prospectivo para a inflação' e nos riscos associados a esse cenário, em vez de privilegiar um olhar apenas sobre os chamados 'preços correntes'.

'Essa manifestação do BC aumenta a probabilidade de corte de 0,25 ponto porcentual na reunião de janeiro de 2007', afirmou o economista Alexandre Loures, da Máxima Asset Management. 'Mas a possibilidade de corte de 0,5 ponto não foi descartada pela ata.'

A economista Zeina Latif afirma que a ata não é clara em relação à tendência para o comportamento do seu colegiado na próxima reunião, em janeiro. 'Se houver melhora no balanço de riscos considerados pelo BC, há espaço para mais uma redução de 0,5 ponto', afirmou. 'Mas, a cada reunião que passa, a chance de redução de 0,25 ponto aumenta.'

A afirmação sobre o consenso entre os membros do comitê de que diversos fatores respaldariam um corte menor na Selic e alongaria o processo de redução nos juros reforça essa percepção. 'Não houve consenso, entretanto, de que a redução no ritmo de flexibilização da política monetária já deveria ocorrer a partir dessa reunião (a última)', diz a ata, no pouco espaço em que explicita a causa da divergência.

Por outro lado, a ata também traz sinais positivos que respaldam as apostas em novo corte de 0,5 ponto, ao considerar que a pressão recente nos preços é transitória e não deve contaminar o longo prazo. Nesse sentido, destaca-se o parágrafo 16: 'Os dados referentes à atividade econômica ainda sugerem uma baixa probabilidade de que observemos pressões significativas sobre a inflação. A expansão das importações tem contribuído de forma relevante para esse processo'.