Título: Vale briga com a China por espaço na África
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Negócios, p. B19

Os interesses brasileiros e chineses começam a se chocar no exterior. Em busca de minérios e de recursos naturais para alimentar seu crescimento econômico de quase 10% ao ano, a China avança para fechar contratos com países africanos para a exploração de minérios e de petróleo. No caminho de sua ofensiva diplomática e comercial, uma das vítimas começa a ser o Brasil.

Um funcionário do alto escalão do governo do Gabão na Organização das Nações Unidas (ONU) informou ao Estado que a Companhia Vale do Rio Doce estava suspendendo suas atividades no país. A empresa teria revisto seus plano de exploração de manganês, setor que é tido como uma grande esperança no Gabão para gerar novos recursos ao país.

Um dos motivos que levou a Vale a desistir no momento de investir no país africano teria sido o fato de ter perdido um dos contratos mais cobiçados na África em 2006. A mina de ferro de Belinga, no norte do Gabão, acabou nas mãos de um consórcio chinês. Há cerca de três meses, o governo do Gabão optou pelos investimentos da China, apesar da proposta feita pela Vale do Rio Doce.

A Vale nega que esteja desistindo de investir no Gabão. A empresa informa que, apesar da perda do concorrência para a mina de Belinga, ainda mantém projetos de pesquisa de manganês e cobre no país.

Os investimentos em um complexo siderúrgico no Gabão seriam de quase US$ 3 bilhões, incluindo a construção de um porto, mais de 500 quilômetros de ferrovia e uma hidrelétrica para alimentar a produção.

A ofensiva chinesa no continente africano está chamando a atenção até mesmo do Banco Mundial, que em outubro criticou o governo chinês por estar criando uma nova dívida dos países africanos. Hoje, 27% de tudo o que a África exporta vai para a Ásia, principalmente para a China, que se tornou um parceiro comercial de peso equivalente aos EUA ou a Europa.

Mas, para analistas da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), o que os chineses estão fazendo é dar mais uma opção de investimento aos africanos, o que fortalecerá o poder de barganha desses países, que estão entre os mais pobres do mundo.

MAIS INVESTIMENTOS

Hoje, os chineses contam com 450 projetos de investimento na África, dos quais 28% estão no setor de mineração e petróleo. Se entre 1990 e 1998 a China investiu apenas US$ 20 milhões no continente africano, esse volume já chegou a quase US$ 1,5 bilhão em 2005 e promete continuar aumentando.

A diplomacia chinesa ainda conseguiu o que o Itamaraty não conseguiu: reunir praticamente todos os chefes-de-estado da África para tratar das relações comerciais e investimentos. Pequim organizou uma conferência há cerca de um mês em sua capital que contou com um grande número de presidentes africanos.

A iniciativa do Brasil para a África conseguiu fazer com que o comércio bilateral dobrasse em apenas três anos. Mas ainda assim não foi um resultado que parece ter entusiasmado os chefes-de-estado do continente, que foram em número reduzido à cúpula organizada por Brasil e Nigéria em novembro.