Título: Reforma de porta-aviões atrasa e estoura orçamento
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2006, Nacional, p. A8

O porta-aviões A-12 São Paulo, um veterano das guerras da Bósnia e do Oriente Médio - quando ainda era o Foch, capitania da Marinha da França - deveria ser o navio líder da Força Naval brasileira, capaz de disparar 15 jatos, cada um armado com 4,5 toneladas de bombas, torpedos ou mísseis; e garantindo o domínio marítimo com largos helicópteros caçadores de submarinos intrusos.

A vida do São Paulo, grande como dois campos e meio de futebol, nunca foi tão boa. Comprado na França em 2000 a preço de amigo, coisa de US$ 12 milhões, ainda no governo de FHC, o A-12 pegou fogo em maio de 2005 na Baía da Guanabara. Mangueiras condutoras de vapor explodiram no convés inferior, enquanto a padaria de bordo preparava o pão e o bolo para o café da manhã de cerca de 800 dos quase 2 mil tripulantes regulares. A temperatura subiu até bem mais de 400 graus. Morreram três homens. Dez outros ficaram feridos. O laudo interno revela um cenário de horror, com pedaços de pele humana misturados ao revestimento do passadiço.

O São Paulo deveria passar por uma reforma estimada em 90 dias. Mas continua fora de ação. E só volta ao trabalho em 2007. Se tudo correr bem, fará sua reapresentação pouco antes de completar dois anos de estaleiro. 'Até que isso aconteça, o País, que aposentou 21 navios e 6 aeronaves nos últimos cinco anos por falta de recursos, fica também sem o principal elemento de projeção do poder naval', analisa Júlio Borges, pesquisador do Centro Hemisférico de Estudos de Defesa, no Chile.

No Arsenal da Ilha das Cobras, no Rio, engenheiros do programa de recuperação acreditam que o navio aeródromo poderá operar só em junho. O custo inicial da reforma, estimado em R$ 4,5 milhões, foi superado. O Comando da Marinha evita tratar dos novos valores.

OBRAS

O porta-aviões revitalizado será um navio melhor. Em uso desde 1963, passou por uma revisão quando navegava sob bandeira francesa. Ao menos 20 diferentes obras estão sendo desenvolvidas a bordo, desde a revisão dos motores até a instalação do sistema Mage, de medidas de apoio à guerra eletrônica. Ele permite detectar de forma furtiva os sinais emitidos por radar inimigo - esteja ele em outro navio, na cabeça de um míssil ou num avião em vôo. O programa não contempla a remoção do amianto, agente cancerígeno, contido no isolamento térmico de 86 dos 1.868 compartimentos internos.

Os 23 Skyhawk A4Ku (veja o quadro) comprados do Kuwait por US$ 70 milhões em 1997 são os mais novos desses jatos entre os fabricados nos anos 70 pela McDonnell-Douglas, extinta pouco tempo depois. A linha era formada por 36 unidades. Durante a Guerra do Golfo cumpriram 1.236 missões contra o Iraque, agregadas à aviação da Arábia Saudita. O lote todo está sendo revisto na filial argentina da americana Lockheed-Martin. Em missão, o São Paulo leva até 15 jatos, mas, até agora, jamais conseguiu empregar essa configuração.