Título: Sindicalistas e estudantes fazem atos no Congresso contra reajuste
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2006, Nacional, p. A6

Pelo segundo dia consecutivo, grupos pequenos porém ruidosos foram ontem ao Congresso para protestar contra o aumento de salário dos parlamentares. Logo cedo, cerca de 50 sindicalistas da CUT ocuparam o gramado diante do Congresso com faixas e bonecos gigantes. Mais tarde, foi a vez de aproximadamente cem estudantes secundaristas e da Universidade de Brasília (UnB) invadirem o lago diante do Congresso.

'Consideramos inadmissível e imoral esse reajuste, enquanto as centrais sindicais brigam por um aumento do salário mínimo para R$ 420', disse a presidente da CUT do Distrito Federal, Rejane Pitanga. Os sindicalistas levaram dois bonecos que representavam congressistas e uma grande alegoria de um vidro de óleo de peroba em cujo rótulo estava escrito: 'Produto brasileiro. Indicado: parlamentares cara-de-pau.' Um carro de som tocava sem parar o slogan: 'Tire a mão do nosso bolso, cambada de cara-de-pau.'

Além de reunir mais gente, a manifestação dos estudantes foi mais turbulenta. Boa parte deles tinha o rosto pintado e usava nariz de palhaço. O grupo carregava faixas com o símbolo do anarquismo, um caixão de papelão e uma cruz com a inscrição: 'Aqui jaz o Brasil.' Um cartaz pedia o fechamento do Congresso.

'A questão não é só o reajuste, mas há também as passagens e as verbas extras que os parlamentares ganham', afirmou Hércules Silva, estudante de Letras da UnB. 'Política deveria ser por vocação e não por profissão. Eles não trabalham tanto assim para receber R$ 24.500', completou Pedro Lima, estudante de Relações Internacionais da UnB.

Os jovens também tentaram invadir o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento das ações que acabaram derrubando o reajuste. A poucos metros da entrada do tribunal, um manifestante escreveu no chão, com tinta vermelha, uma mensagem ofensiva à presidente do STF, Ellen Gracie.

Vários manifestantes deitaram no asfalto e conseguiram interromper por duas vezes o trânsito na Esplanada dos Ministérios, hostilizando quem chegava em carro oficial. Além de repudiar o reajuste dos congressistas, os manifestantes também gritavam slogans em favor do passe livre para estudantes nos ônibus do Distrito Federal e até da legalização da maconha. Sob vigilância de policiais militares, alguns chegaram a arriar as calças e exibir seus traseiros para fotógrafos e cinegrafistas.

Em meio ao tumulto no Congresso, o jornalista Jailton de Carvalho, do jornal O Globo, foi preso pela Polícia Legislativa do Senado sob a alegação de desacato a autoridade. Abordado por um segurança do Senado à paisana, que lhe pediu a credencial, o repórter respondeu que só se identificaria na portaria do Congresso. Foi algemado e ficou preso durante 50 minutos numa sala da segurança. Acabou libertado por determinação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que lhe pediu desculpas pelo constrangimento.