Título: Bastos estica permanência na Justiça
Autor: Rosa, Vera ; Nossa, Leonencio e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2006, Nacional, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que permaneça no cargo até o fim de janeiro. Depois de dizer que faria 'esforço concentrado' após o Natal para escalar a equipe do segundo mandato, Lula voltou a pôr a reforma em banho-maria ao afirmar que empurrará a montagem do ministério para fevereiro, após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado.

Thomaz Bastos já havia dito a Lula que no dia 2 de janeiro pretendia estar em casa, em São Paulo, 'cuidando dos netos', mas o presidente o convenceu a continuar na Esplanada por mais algum tempo. Questionado por repórteres por quanto tempo ainda ficaria no posto, o ministro respondeu de forma lacônica, com três palavras: 'Mais um mês.'

Logo após sair da conversa com Lula, ele afirmou que vai tirar férias de dez dias, a partir do Natal. Bem-humorado, disse que logo após deixar o cargo ficará um tempo de folga. 'Vou vadiar um pouco. Vou advogar, mas, assim, de leve, nada de grande', comentou.

Thomaz Bastos informou, depois, que uma vez fora do ministério cumprirá um período de quarentena de cinco a seis meses. 'Eu não pretendo advogar tão cedo nem exercer a advocacia em áreas como o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal.'

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, também deixará o cargo junto com Thomaz Bastos. Dois nomes são os mais cotados para substituí-lo: o diretor de Inteligência Policial, Renato da Porciúncula, e o diretor-executivo da PF, Zulmar Pimentel.

CONGELAMENTO

Com o pedido de Lula a Thomaz Bastos, as outras trocas que ocorreriam a partir da saída do ministro ficaram congeladas. Cotado para a Justiça, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, permanecerá no Palácio do Planalto mais tempo. E o governador do Acre, Jorge Viana (PT), que encerra o mandato neste mês, ainda terá de aguardar a vaga. Dono de perfil negociador e com bom trânsito na oposição, principalmente entre os tucanos, Viana é o mais citado para comandar a articulação política.

Apesar do discurso oficial sobre o adiamento da reforma, Tarso disse que o presidente deverá fazer 'mudanças pontuais' na equipe até a segunda posse, em 1º de janeiro. 'O presidente vai anunciar apenas dois ou três ministros até a posse', afirmou. 'Ele está formando um juízo para em janeiro fazer a remontagem total do governo.'

Lula sempre teve simpatia pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, mas ele resiste a ocupar a Justiça. 'É falta de educação responder a um convite que não foi feito', desconversou Pertence.

Na prática, Lula precisa jogar com as posições no Congresso e com a indicação de ministros para compor os interesses de dez partidos no governo de coalizão. Por enquanto, está preocupado em acomodar o PMDB sem despetizar tanto o governo.

O secretário de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi (PT), já disse a Lula que também gostaria de voltar para casa. Para a sua cadeira, o mais cotado até agora é o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que não foi reeleito. Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, também foi lembrado para o posto. 'Mas eu não vou, não', garantiu.