Título: MP quer bicheiros em Brasília e no RDD
Autor: Auler,Marcelo e Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2006, Metrópole, p. C4

Por causa das denúncias de corrupção na Polícia Interestadual (Polinter), onde estão presos os bicheiros rivais Fernando Iggnácio e Rogério Andrade, acusados de comandar a guerra dos caça-níqueis no Rio, o Ministério Público pediu a transferência deles para Brasília, no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em que os presos ficam incomunicáveis. Segundo a acusação do MPF contra 43 supostos membros das duas quadrilhas, Iggnácio paga R$ 6 mil por quinzena a autoridades públicas estaduais para ter regalias na prisão, situada em Neves, distrito de São Gonçalo.

A 4ª Vara Federal Criminal, que acatou a denúncia, negou o RDD por entender que sua aplicação é de competência da Justiça Estadual. O juiz Flávio Oliveira Lucas, no entanto, concorda com a transferência, que ainda depende de consulta ao Tribunal de Justiça do Rio. Lucas também admite que uma eventual saída dos acusados do Estado dificultaria o andamento do processo, já que eles serão interrogados em janeiro - Iggnácio no dia 10 e Andrade, no dia 22.

Preso na carceragem de Campo Grande, zona oeste do Rio, Andrade, segundo os procuradores, continuou a comandar o crime da prisão, por meio de telefones celulares, passando e recebendo fax. Abriu uma conta de e-mail no provedor hotmail, que se recusa a fornecer à Justiça as mensagens. Recebia visitas de comparsas sempre que desejava e de garotas de programa.

Em conversa com uma cafetina identificada como Zelma, o bicheiro se mostra indeciso entre mais de uma menina, 'que deve vir sozinha, como uma namorada'. Ele acaba encomendando uma garota identificada como Luciana para um amigo que está com ele, por R$ 500.

FAX

As regalias que os bicheiros possuem nas carceragens da Polinter demonstram que nada mudou desde o início dos anos 90, quando o mentor de ambos, Castor de Andrade, respectivamente sogro e tio de Iggnácio e Andrade, esteve preso em uma delas, a da zona portuária, desativada pelo ex-chefe de Polícia Álvaro Lins.

A passagem de Castor por lá foi lendária. Havia celas que pareciam suítes de hotel de luxo, com ar-condicionado, lavadora de roupa, frigobar, televisão e videocassete. As festas constantes eram movidas à champanhe, caviar e prostitutas. Além de financiar a reforma das celas, o contraventor pagou o conserto de carros policiais.

Em junho de 2003, uma vistoria feita de surpresa pela Corregedoria da Polícia Civil descobriu um escritório de advocacia clandestino no Ponto Zero da Polinter, onde ficam os policiais presos ou detentos com diploma universitário. Constatou-se que dois outros presos mantinham suítes privativas, com internet, telefone fixo, fax, ar-condicionado e frigobar.

O superintendente da Polícia Federal no Rio, Delci Teixeira, está em busca de vagas nas carceragens de outros Estados, mas o mais provável é Andrade e Iggnácio ficarem na PF em Brasília.