Título: Controle de capital na Tailândia assusta mercados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2006, Economia, p. B13

A Bolsa de Valores de Bangcoc registrou ontem a maior queda desde o início da crise asiática, em 1997. A desvalorização de 14,8% se seguiu ao anúncio, pelo governo da Tailândia, de medidas para controlar o movimento de capitais e, assim, conter a onda de valorização da moeda local, o baht. A forte reação negativa do mercado acionário levou o ministro das Finanças do país, Pridiyathorn Devakula, a revogar algumas das instruções divulgadas horas antes.

A principal medida estipula que o Banco Nacional de Tailândia reterá, durante um ano, livre de juros, 30% do valor total de cada transferência de capital estrangeiro depositada em bancos do país acima de US$ 20 mil. Os investidores que quiserem tirar seu dinheiro antes desse prazo terão de voltar só dois terços do valor da aplicação.

Mais tarde, o governo tailandês decidiu excluir das novas regras os recursos direcionados para o mercado de ações e os investimentos estrangeiros diretos. Com a mudança, a expectativa de alguns analistas é de que a Bolsa de Bangcoc recupere ao menos parte das perdas no pregão de hoje.

Outros especialistas estão mais céticos e argumentam que é difícil diferenciar o dinheiro destinado à bolsa daquele voltado para a renda fixa. Estima-se que o tombo de ontem tenha reduzido em US$ 28 bilhões o valor de mercado das companhias que têm ações negociadas no mercado tailandês.

TEMORES

Ao anunciar as medidas, o ministro Devakula afirmou que a decisão era um 'esforço histórico' destinado a pôr fim à especulação com o baht, que neste ano já se valorizou cerca de 17% ante o dólar. Essa alta - a maior de uma moeda asiática ao longo de 2006 - tem prejudicado as exportações do país. 'A política será essa, o mercado se ajustará por si só', disse Devakula, no momento da divulgação. Na segunda-feira, o baht atingiu o maior nível ante o dólar dos últimos nove anos e meio. Ontem, se desvalorizou 2%.

O governo tailandês já havia adotado medidas para restringir a entrada de capitais no país nos dias 7 de novembro e 4 de dezembro. Em novembro, a idéia era reduzir o abastecimento de moeda no mercado para evitar especulação por parte dos investidores estrangeiros.

Em dezembro, o objetivo era bloquear o acesso de estrangeiros ao baht por meio de bônus domésticos e transações com papéis de dívida. Como ambas não funcionaram, optou-se por algo mais radical.

A queda da bolsa tailandesa teve reflexos em outros mercados asiáticos. As bolsas da Índia e da Indonésia recuaram quase 3% cada, enquanto os mercados de Cingapura e da Malásia caíram quase 2%. Para analistas, esse impacto não deve se estender para os próximos dias.