Título: Hamas levaria vantagem em guerra civil, dizem analistas
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2006, Internacional, p. A10

Caso exploda uma guerra civil em larga escala nos territórios palestinos, as forças organizadas e bem equipadas do Hamas estarão em posição de vantagem sobre os grupos leais ao presidente Mahmud Abbas, do Fatah, segundo diplomatas e analistas.

De acordo com os analistas,os membros da chamada ¿força executiva¿ do Hamas e do braço armado do grupo fundamentalista islâmico, o Qassam, estão mais preparados para um conflito. E Gaza, bastião do Hamas, seria provavelmente o principal campo de batalha.

Para as fontes, o confronto deve ser visto como uma guerra de representação entre os EUA, que tentam fortalecer a guarda de Abbas, e o Irã, que apóia o Hamas. ¿O que distingue (as forças do Hamas) é o fato de estarem altamente comprometidas politicamente e serem leais a uma causa e não a um líder¿, disse Mouin Rabbani, analista do International Crisis Group.

Autoridades israelenses disseram que a decisão, na semana passada, de impedir o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, do Hamas, de entrar com US$ 35 milhões em Gaza decorreu em parte da preocupação de que o dinheiro se destinasse às forças do Hamas, acusação que o grupo nega. Washington deseja que os fundos retidos sejam redirecionados para a guarda presidencial de Abbas. Na semana passada, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que o governo fornecerá milhões de dólares para aprimorar as forças de Abbas.

Com apoio de Washington, a guarda presidencial de Abbas já foi ampliada para 4 mil membros. Apesar do tamanho relativamente pequeno, ela é considerada a força melhor equipada e treinada dos territórios palestinos. O Hamas expandiu rapidamente sua força executiva para 6 mil membros - número que não inclui os milhares de combatentes que formam o Qassam.Um diplomata que trabalhou no departamento de segurança do gabinete de Abbas disse que, no caso de uma guerra em Gaza, o Hamas estaria em vantagem porque o Fatah tem uma estrutura de comando menos centralizada.

Antes do anúncio de trégua, Zakaria al-Qaq, especialista em segurança na Universidade de Al-Quds, em Jerusalém, disse que o confronto entre as forças do Fatah e do Hamas poderia se intensificar por causa da obediência e lealdade concorrentes entre as facções e clãs dentro da sociedade de Gaza.

Desde que assumiu o poder, o Hamas angariou ao menos US$ 80 milhões, dinheiro trazido em mãos, através da fronteira de Rafah, dizem diplomatas que conhecem a região. A força executiva do Hamas é formada principalmente por membros das Brigadas, mas também por militantes de facções aliadas. Mas o Hamas não revelou de onde vem o dinheiro, armas e equipamentos recebidos por essa força.