Título: Guerra da celulose de novo em Haia
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2006, Economia, p. B5

A Corte Internacional de Haia vai avaliar hoje as queixas do governo do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, contra os piquetes dos argentinos nas pontes que ligam os dois países, em protesto contra a instalação de uma fábrica de celulose da finlandesa Botnia no município uruguaio de Fray Bentos, na margem do Rio Uruguai.

O governo Tabaré argumenta que os piquetes impedem a livre circulação de pessoas e mercadorias e prejudicam a economia uruguaia. Entre janeiro e março, quando as manifestações foram realizadas pela primeira vez, o bloqueio de uma única ponte - a que liga a argentina Gualeguaychú à uruguaia Fray Bentos - causou prejuízos de mais de US$ 400 milhões.

Em Haia, os diplomatas uruguaios vão argumentar que os bloqueios violam as leis internacionais. Além disso, afirmarão que os tribunais internacionais, até o momento, deram razão ao Uruguai nesse conflito. De quebra, acusam o governo Néstor Kirchner de 'animar' os piquetes.

Segundo os diplomatas uruguaios, o governo argentino 'não adotou nenhuma medida (contra os piquetes) e transmite a impressão que tampouco o fará no futuro'.

Os representantes de Montevidéu vão denunciar a 'a perda de empregos e centenas de milhões de dólares com a intolerância, aquiescência e cumplicidade argentina'. Vão pedir que o governo Kirchner tome medidas para impedir os bloqueios argentinos.

Enquanto isso, em um sinal de boa vontade, o governo Tabaré ordenou a retirada dos soldados que havia enviado à Fray Bentos para proteger a fábrica da Botnia. Há duas semanas, o envio dos soldados causou indignação na Argentina. Tanto o governo Kirchner como os manifestantes afirmaram que se tratava de uma provação. Na ocasião, o governo uruguaio alegou que as tropas haviam sido enviadas para se precaver de eventuais atentados ou atos de sabotagem.

Os manifestantes argentinos - habitantes da região da fronteira e ecologistas - exigem o fim da construção da fábrica ou sua mudança para longe das margens do Rio Uruguai. Eles afirmam que a fábrica vai causar uma catástrofe ambiental e econômica. O presidente Kirchner, que nunca antes havia mostrado inclinações ambientalistas, respaldou os manifestantes por questões eleitorais.

Para colocar a pique os planos do Uruguai de se transformar em um pólo hemisférico de produção de celulose, Kirchner não hesitou em tentar torpedear o empreendimento apelando a Haia e ao Banco Mundial. Até agora, as tentativas do presidente argentino fracassaram.