Título: PMDB quer controlar R$ 74,7 bi e assusta parceiros da coalizão
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2006, Nacional, p. A4

Com todas as facções em disputa por cargos no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB se prepara para apresentar, nesta semana, a conta do casamento de papel passado com o governo: quer ocupar seis ministérios que, juntos, têm verba de R$ 74,7 bilhões para 2007 - uma cifra correspondente a 16,9% do dinheiro previsto para o Orçamento do Executivo. O problema é que a demora de Lula em delimitar o território dos parceiros está levando a base aliada ao ringue. O apetite do PMDB já provoca ciúme nos outros partidos chamados para integrar o governo de coalizão.

Abrigados sob o guarda-chuva do Conselho Político, oito partidos vão se reunir com Lula na quarta-feira para discutir a relação, que já sofreu o primeiro revés com a derrota governista na eleição para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), há quatro dias. Dirigentes do PMDB fizeram chegar aos ouvidos do presidente que a legenda não só deseja manter sob sua alçada os Ministérios da Saúde, de Minas e Energia e das Comunicações como sonha em dobrar o número de assentos na Esplanada. Está de olho em Transportes, Cidades e Integração Nacional. Pede meia dúzia, mas sabe que, com um choro aqui e outro ali, pode levar quatro, dependendo do resultado da eleição para o comando da Câmara e do Senado, em fevereiro.

Lula disse a interlocutores que o governador eleito do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), deverá indicar o novo titular da Saúde. O médico José Gomes Temporão é cotado para a vaga. Apadrinhado pelo senador José Sarney (AP), o ministro Silas Rondeau, de Minas e Energia, tende a continuar no posto.

O destino de Hélio Costa (Comunicações) ainda está indefinido, mas é possível que ele seja mantido. A um passo de se filiar ao PMDB, a senadora Roseana Sarney (MA), sempre lembrada para a equipe, já falou com Lula que prefere ajudá-lo no Congresso.

MANOBRA

Informados de que o presidente também chamará o senador eleito Alfredo Nascimento (PL) para reassumir sua cadeira nos Transportes, peemedebistas não perderam tempo. Há poucos dias, convidaram Nascimento para se filiar ao partido. Por enquanto, ele resiste: jura que permanecerá no PL.

A gulodice do PMDB irrita petistas, socialistas, comunistas e liberais. Motivo: ninguém quer perder seu quinhão para dar mais espaço ao novo parceiro. 'O PMDB não pode ser o que o PT foi no primeiro mandato', reclama o senador eleito Renato Casagrande (PSB-ES), hoje deputado.

Dez dias depois de o ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE) ter chamado o PMDB de 'elefante branco' que só se impõe pelo tamanho, Casagrande também deu uma estocada, mas em estilo light.

'Um programa de coalizão tem como pressuposto o equilíbrio das forças que compõem o governo', argumentou. Atualmente, o PSB controla dois ministérios: Integração Nacional, pasta antes ocupada por Ciro, que o PMDB quer abocanhar, e Ciência e Tecnologia - ministério que, se ficar com os socialistas, pode ser capitaneado pelo próprio Casagrande.

COTOVELADAS

Não bastassem as cotoveladas entre aliados, senadores e deputados do PMDB também lutam para cobrar a fatura do Planalto. Na quarta-feira, até um discípulo de Sigmund Freud tentou explicar o mal que assola o partido. Em reunião da bancada peemedebista na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), psiquiatra de profissão, desfiou um rosário de indicações feitas pelos senadores, principalmente por Sarney e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), para fazer o diagnóstico.

Ao escancarar a lista das nomeações, exibiu uma penca de diretorias de estatais e bancos públicos, dos Correios à Transpetro, passando por Furnas, Eletronorte e Funasa.

'A balança só pende para o lado do PMDB no Senado porque nós, da Câmara, ficamos nos digladiando', concluiu Castro. 'O normal aqui, na China e na Cochinchina é a representação do partido ser proporcional à sua força. Temos 89 deputados eleitos e qual é o nosso espaço no governo?', perguntou o deputado-psiquiatra, pregando a rebelião. 'Assim não dá!'

Prestes a comemorar 40 anos na terça-feira, já que os tempos do MDB velho de guerra recheiam sua história, o PMDB iniciará 2007 com um contingente que, além dos 89 deputados, também inclui 7 governadores e 18 senadores. O partido já foi visto como o mais infiel da base aliada, segundo levantamento produzido pelo governo Lula, tomando como parâmetro importantes votações do ano. Agora, no entanto, promete mudar. Desde que seja contemplado na partilha do poder.

Na tentativa de aplacar a ansiedade, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, lembra que PT, PMDB, PSB, PC do B, PRB, PDT, PL e PV vão sentar-se à mesma mesa com Lula, nesta semana, para acertar os ponteiros. 'A montagem da coalizão é um processo bem mais lento e complexo do que a composição de um ministério', ameniza Tarso. Pelos sinais emitidos por Lula até agora, o PMDB terá de aprender a exercitar a milenar arte da paciência.