Título: Pressão de Lula trava pacote fiscal
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2006, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou a sua equipe econômica na fogueira ao determinar que o Brasil acelere o crescimento econômico para 5% já a partir de 2007, sem definir o caminho para que este objetivo seja alcançado. 'O governo caiu numa armadilha da oposição ao adotar a bandeira do crescimento imediato de 5%', disse uma fonte do Executivo.

A posição delicada dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento e do Banco Central (BC) ocorre porque o espaço de manobra deixado pelo presidente é muito estreito. De um lado, Lula rejeita fórmulas do tipo da Argentina, na qual o controle inflacionário é sacrificado por ganhos de crescimento no curto prazo, ou da Venezuela, no qual o boom é financiado com ações de grande risco na área fiscal.

De outro, manifesta irritação com a agenda ortodoxa para acelerar o crescimento, que prevê forte contenção dos gastos correntes e reformas da Previdência e tributária, e implica duros enfrentamentos com grupos de pressão, muitos dos quais fazem parte da base eleitoral petista, como funcionários públicos e aposentados.

Diante do impasse, a equipe econômica vem montando uma colcha de retalhos de medidas fiscais paliativas, de idéias para aumentar um pouco o investimento público, e de desonerações tributárias que correm o risco de se transformar num jogo de concessões setoriais ao sabor das pressões de lobbies. 'O governo não quer cortar gastos, o que abriria espaço para uma grande reforma tributária horizontal', comentou a economista Eliana Cardoso. 'Essa discussão sobre bondades tributárias representa uma volta ao passado, à ilusão de que um burocrata sabe melhor do que o empresário onde investir.'

O objetivo de 5% de crescimento em 2007 não é bancado com segurança nem por importantes auxiliares de Lula, como o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Ambos falam dos 5% como uma possibilidade, não uma certeza. Ironicamente, a obsessão pelos 5% ocorre num momento positivo da economia, quando muitos analistas vêem a chance de que o País gradualmente aumente o ritmo da atividade econômica, desde que haja empenho na agenda de reformas.

'É como uma ejaculação precoce querer crescer 5% já e não conseguir sustentar o ritmo', disse o economista Luciano Coutinho, que esteve recentemente com Lula e foi incumbido de desenvolver propostas para o governo. Coutinho critica o fato de o governo 'anunciar açodadamente idéias que não estão amadurecidas'. Para ele, 'é preciso refrear a ansiedade, porque é preferível crescer menos em 2007 e aproveitar o ano para criar as condições de uma velocidade de cruzeiro de 5%'.