Título: Futuro será definido terça ou quarta
Autor: Medeiros, Jotabê
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Nacional, p. A14

Em visita à 27ª Bienal de São Paulo, na quinta-feira, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse que deve definir na terça ou na quarta-feira seu futuro no governo. Sua disposição mudou bastante, ele disse, porque se sensibilizou com os pedidos que as pessoas têm feito para que permaneça - de chefes de Estado e até de gente comum, na rua, revelou.

¿Estou reconsiderando uma posição que estava mais fechada antes, de não querer continuar¿, afirmou. Gil contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa com ele, na semana passada, fez um único comentário sobre sua gestão: ¿O Ministério da Cultura é leve¿, disse-lhe Lula. ¿Para mim, foi suficiente como elogio¿, afirmou. ¿Não sou técnico, sou poeta. Estou no governo como tal.¿

Gil elogiou o senador Antonio Carlos Magalhães, que classifica de ¿competente¿, e não descartou a possibilidade de concorrer à Prefeitura do Rio no futuro. E confirmou que deve receber, no seu Camarote 2222, no Carnaval de Salvador, a apresentadora americana Oprah Winfrey, o arranjador Quincy Jones, o guitarrista Santana e a cantora Janet, irmã de Michael Jackson.

Para ele, foi uma vitória pessoal não ter deixado que o cargo público atrapalhasse sua vida profissional. ¿O artista não atrapalhou o ministro¿, afirmou. ¿Podia ter dado errado. Felizmente não deu. Felizmente eu me dediquei a fazer esse trabalho. Fui suficientemente tranqüilo para entender o redemoinho causado, a poeira que levantou, não me incomodei de me sujar com essa poeira. Fui suficiente calmo e claro, e a sociedade acabou entendendo.¿

E alfinetou os críticos. ¿As pessoas dizem que sou filosofante, ficam fazendo um pouco de chacota com meu estilo, mas acontece que é assim mesmo, a vida é assim, o governo também é assim: tem muito impedimento, muita coisa que deve mudar e outra que deve ficar no lugar porque, se mudar, desarruma demais, de uma forma patológica.¿

É verdade que o Caetano pediu que o sr. ficasse?

Não, ele não me pediu que ficasse. Ele conversou muito comigo na segunda-feira, e nós encontramos linhas de compreensão mútua para uma idéia de permanência, de continuação de trabalho. Eu tô conversando com o presidente. O processo de vida é assim mesmo, porque o dia de amanhã não é o de hoje, tem de ser feito com o hoje, mas também com o que não está ainda posto hoje. Ao mesmo tempo há o limite da máquina governamental, da máquina do mundo. Há tudo, muita coisa. É muito lúdico também, mas não é uma brincadeira.

As conversas com artistas o têm sensibilizado?

Sim, porque elas têm aspectos primeiro para esse lado pessoal, que é o lado da limitação física, psíquica, o fato de a gente se achar pequeno para tarefas tão gigantes, e isso tudo é compensado por essa palavra do outro que estimula, que diz: ¿Não, você é pequeno mas dá. Sua força é pouca mas é suficiente¿. Tem esse ânimo. Além da lisonja.

Há também uma demanda para que o sr. se candidate à Prefeitura do Rio.

Cada coisa de uma vez.

Não o atrai a idéia?

Não é que não me atraia. Eu já quis ser prefeito de Salvador. Então não tem nada de muito inédito com o tema. Mas agora quero pensar no ministério.

Que nome o sr. indicaria pra substituí-lo no MinC?

Não cheguei a pôr isso na mesa com o presidente. Evidentemente que cheguei a pensar em casa nisso, naquilo, alguém do próprio ministério, de fora, da área política, algum outro ícone da vida cultural, mas não cheguei a nenhum nome.