Título: Deputado eleito pelo PT deixa cela da Polícia Federal
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Nacional, p. A20

O delegado da Divisão de Combate a Crimes Financeiros da Polícia Federal (PF), Bruno Ribeiro Castro, entregou na noite de anteontem à Justiça Federal, em Belo Horizonte, relatório final do inquérito que investigou um esquema de blindagem patrimonial de empresas devedoras de tributos e sonegação fiscal, que seria comandado pelo advogado tributarista Juvenil Alves, deputado federal eleito pelo PT de Minas Gerais.

Juvenil é um dos 30 indiciados no inquérito, junto com mais 29 pessoas. Ele, que estava preso preventivamente, deixou no final da noite de quinta-feira a superintendência da PF na capital mineira, em cumprimento a liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região no pedido de habeas-corpus impetrado pela defesa.

Conforme Castro, as investigações comprovaram a existência de um esquema criminoso que teria provocado prejuízo de ao menos R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, falsidade ideológica e estelionato estão entre os crimes previstos.

No relatório entregue na 4ª Vara Federal em Belo Horizonte, o delegado solicitou o seqüestro de um imóvel de luxo na capital mineira, avaliado em R$ 4 milhões. Segundo Castro, o apartamento, em nome de uma empresa brasileira, pertenceria de fato a Juvenil por meio de uma empresa uruguaia.

A PF solicitou também o bloqueio de 2,5 milhões depositados em quatro contas bancárias em Portugal. Maria Adelaide Costa, mulher de um dos investigados - o ex-deputado federal Avelino Costa, dono da empresa de alimentos Pif Paf -, teria tentado recentemente sacar o dinheiro e chegou a contratar empresa de transporte de valores para fazer a retirada. A movimentação chamou atenção de autoridades de Portugal. Os saques não foram autorizados e a PF conseguiu que as contas fossem bloqueadas.

Juvenil e Adelino foram presos temporariamente dia 23 na Operação Castelhana deflagrada pela PF. Foram efetuadas outras 13 prisões e diversas operações de busca e apreensão.

Investigações identificaram um esquema que consistia na abertura de empresas offshore no Uruguai e na Espanha, em nome de laranjas. A quadrilha, por meio das offshore, constituía empresas no Brasil, que adquiriam empresas endividadas do empresário disposto a blindar seu patrimônio. O objetivo era ocultar e dissimular valores e bens e evitar que eles fossem alvos de execuções judiciais.

Juvenil foi apontado como o mentor e executor do esquema. Ele havia voltado para a carceragem da PF no dia 29, sob a acusação de que estaria coagindo testemunhas. O advogado Leonardo Isaac Yarochewsky, que defende Juvenil, disse que não há ainda acusação formal contra seu cliente, que nega as acusações. O deputado também é suspeito de crime eleitoral. Por indícios de prática de caixa 2, teve a diplomação suspensa pelo Tribunal Regional Eleitoral até a conclusão da investigação.

NÚMEROS

30 pessoas foram indiciadas pela PF

R$ 1 bilhão foi o prejuízo aos cofres públicos

15 prisões foram efetuadas pela PF

R$ 4 milhões é o valor do apartamento que pertenceria a Juvenil

2,5 milhões estão depositados em quatro contas bancárias de Portugal

R$ 415 mil foi o valor da campanha declarado por Juvenil, mas PF suspeita que custos tenham sido de R$ 5 milhões