Título: Bancos insistem em mudar a TR
Autor: Dolis, Rosangela
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Economia, p. B1

Instituições financeiras insistem em que o governo precisa rever a fórmula de cálculo da Taxa Referencial (TR), e conseqüentemente do rendimento da caderneta de poupança, por causa do corte dos juros. A taxa básica caiu de 18% ao ano em janeiro para 13,25%. A medida seria necessária para evitar distorções no segmento de crédito imobiliário e migração de fundos de renda fixa menos rentáveis para a caderneta.

'Temos preocupação com a fórmula que define a TR', afirmou o diretor de crédito imobiliário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Natalino Gazonato, na quinta-feira. 'Ela impede que a taxa acompanhe as reduções da taxa básica de juros (Selic)'. Segundo Gazonato, isso impõe a quem toma financiamento habitacional correção maior do que se a TR seguisse a queda do juro. Entidades que representam mutuários dizem que o efeito da TR sobre o financiamento é pequeno. 'O grande vilão são os juros de até 12% ', diz Amauri Bellini, presidente da Associação Brasileira de Mutuários da Habitação.

Gazonato disse haver também apreensão com um descasamento dos prazos de captação de recursos de poupadores e dos contratos de financiamento com esse dinheiro, caso haja uma entrada de recursos muito forte na caderneta. O receio é de que haja uma reversão no cenário e a poupança volte a se tornar pouco rentável, situação que provocaria fuga da aplicação. Dessa forma, as instituições ficariam com uma proporção muito elevada de recursos aplicados no longo prazo sem a contrapartida dos depósitos.

O professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho acredita que em algum momento o governo vai ter de alterar o cálculo da TR. 'O risco de não fazer isso é provocar um forte desequilíbrio nas captações do mercado financeiro, com a concentração de recursos para financiamento imobiliário e falta de dinheiro em outras linhas de crédito ao consumidor', diz. Do dinheiro captado em poupança, os bancos precisam destinar 65% para financiamentos habitacionais. Já as captações para linhas de crédito ao consumidor são feitas com títulos bancários, que poderiam ter a emissão reduzida.

Dutra explica que a base de cálculo da TR é a taxa média dos títulos bancários. Sobre essa média, é aplicado um redutor. Ocorre que esse redutor cai junto com a taxa de juro - com os juros a 13,75% ao ano, o redutor era de 36% e a TR, 0,18%; se o juro cair para 12% ao ano, o redutor será de 28% e a TR continuará em 0,18%.

Dutra diz que a revisão é necessária também porque isso coloca o Brasil na contramão de outros países. 'A caderneta é acessível a todos, tem a maior garantia do mercado, e em nenhum país uma aplicação com essas características é tão competitiva como ela agora.' A diretora de Recursos Humanos Cláudia Possebon está entre os 75 milhões de poupadores do País. 'A praticidade e a garantia de que o dinheiro vai estar lá me dão tranqüilidade.'

FUNDOS

Em novembro, a caderneta teve captação recorde no ano de R$ 2,644 bilhões e os fundos de renda fixa perderam R$ 2,029 bilhões, mas os bancos negam fugas dos fundos menos rentáveis para a caderneta. A Associação Nacional dos Bancos de Investimento(Anbid) diz que não há preocupação com a concorrência da caderneta.

'É simplório dizer que isso coloca em xeque a indústria de fundos', diz Marcelo Giufrida, presidente da entidade. O setor, ele diz, comemora este ano o melhor resultado da história, com captação líquida (depósitos menos saques) de R$ 70 bilhões.