Título: Mantega nega mudança para beneficiar fundos
Autor: Velloso, Thiago e Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Economia, p. B3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo ainda não cogita modificar o cálculo da taxa referencial (TR), como desejam as instituições financeiras que concedem crédito imobiliário. Alguns bancos estão preocupados com a possibilidade de, mantido o valor atual da TR, haver uma migração em massa de recursos dos fundos de investimento para a poupança. Com a queda da taxa básica de juros, a poupança pode render mais do que as carteiras de títulos públicos das instituições financeiras, voltadas ao pequeno investidor.

'Isso ainda não entrou na cogitação do governo. É uma colocação que está sendo feita pelo setor privado, e há uma discussão longa a ser feita a esse respeito', concluiu Mantega, que participou ontem de almoço com membros do Secovi, sindicato do setor imobiliário.

Na opinião de uma fonte da área econômica ouvida pelo Estado, 'os bancos têm gordura para queimar'. 'Quem aplica no Tesouro Direto, por exemplo, ainda ganha de longe da poupança.' Segundo essa fonte, o governo acha que, se quisessem evitar uma fuga de recursos desses fundos para as cadernetas de poupança, os bancos deveriam reduzir as taxas de administração cobradas dos cotistas dos fundos.

O Tesouro Direto permite que os investidores façam aplicações pela internet em títulos da dívida pública federal, sem pagar as taxas de intermediação ou administração aos bancos. Segundo a fonte, a possibilidade de diminuir a rentabilidade da poupança para evitar prejuízo aos fundos ainda não está em debate no governo, e só deveria entrar em discussão depois que os bancos promovessem uma 'rodada consistente' de redução das taxas de administração dos fundos.

A fonte ouvida pelo Estado disse, porém, que, se de fato houver migração expressiva de recursos para a poupança, o tema terá de ser discutido 'em algum momento'. Uma das preocupações, caso isso ocorra, é a dificuldade que o sistema financeiro teria para direcionar 65% dos depósitos de poupança para empréstimos habitacionais.

A sugestão do mercado para que o governo mexa na rentabilidade da poupança não é nova. Há pouco mais de um mês, o secretário do Tesouro, Carlos Kawall, negou que o governo estivesse estudando reduzir a remuneração da poupança.