Título: IBGE prevê menor inflação desde 98
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Economia, p. B4
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terá em 2006 a menor taxa anual apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1998, segundo adiantou ontem a coordenadora de índices de preços do instituto, Eulina Nunes dos Santos. O resultado final do ano só será divulgado em janeiro de 2007. Mas o desempenho de novembro já garante a projeção: a inflação ficou em 0,31% e somou em 11 meses alta de 2,65%.
A meta de inflação do governo para este ano é de 4,5%, com tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo. As estimativas de mercado apontam que a taxa não ultrapassará 3,2%. 'Já não há dúvida que a inflação deste ano será a menor desde 1998', disse Eulina. Naquele ano, a taxa foi de 1,65%.
Ela observou que, com os dados apurados até novembro, fica claro que a inflação em 2006 foi bastante influenciada pelo dólar. 'A economia brasileira é permeada pelo dólar em seus custos e o câmbio neste ano facilitou a importação de produtos, com impacto na inflação.'
Outro fator importante para conter a inflação em 2006, segundo Eulina, foi o crescimento da safra agrícola de 3% ante a safra do ano passado, com produção total de 115,9 milhões de toneladas, que fez com que os alimentos contribuíssem para manter o IPCA em níveis reduzidos na maior parte do ano.
Os alimentos acumularam, até novembro, alta de 0,84%, mas só pressionaram o índice a partir de outubro. Até setembro, as variações de preços desses produtos foram negativas ou próximas de zero.
Mas, em novembro, o grupo dos produtos alimentícios, com alta de 1,05% nos preços, respondeu sozinho por 0,21 ponto porcentual da inflação no mês, ou 70% da taxa. Segundo Eulina, isso ocorreu por causa da entressafra de alguns produtos e fim da temporada de colheita em outros.
Além disso, ela explicou que, apesar da boa safra agrícola deste ano, produtos importantes nas despesas das famílias tiveram a colheita reduzida em 2006, como arroz (- 13%), feijão 3ª safra (- 12%) e trigo (- 45%). No entanto, ela destacou que vários itens alimentícios já começaram a desacelerar a alta em novembro em relação a outubro, tendência que deverá prosseguir em dezembro.
Ainda em novembro, o grupo dos produtos não alimentícios teve alta de 0,21%. Apesar da pressão dos cigarros (4,63%), vestuário (0,65%) e plano de saúde (0,75%), houve deflação em itens importantes como álcool (- 0,86%), gasolina (- 0,17%), energia elétrica (- 0,57%) e remédios (- 0,17%).
A alta concentração do impacto dos alimentos na inflação de novembro foi ainda menor do que a esperada pelo mercado financeiro, que esperavam em média variação de 0,34% no IPCA de novembro. 'Foi um excelente resultado o do IPCA de novembro porque ficou abaixo das expectativas do mercado', afirma o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos.
Marcela Prada, da Tendências Consultoria, disse que os resultados do IPCA foram favoráveis e apontam para uma inflação total acumulada no ano de 3,1%. Ela avalia que a inflação deve voltar a subir em dezembro, para uma taxa de 0,40%, por causa dos reajustes de transporte público em São Paulo e no Rio de Janeiro, que devem contribuir com cerca de 0,20 ponto porcentual no resultado do último mês do ano.