Título: Lula discute com Evo ameaça a brasileiros
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Internacional, p. A26

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na tarde de ontem em Cochabamba com a tarefa de abordar seu colega boliviano, Evo Morales, sobre a ameaça de expulsão de brasileiros radicados na Bolívia. O encontro privado com Evo foi seu primeiro compromisso no país, onde deverá permanecer por apenas 24h45. Hoje, Lula transferirá a presidência temporária da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa)para a Bolívia. Às 18h30 (horário de Brasília), embarca para São Paulo.

A Lula interessa, neste momento, impedir que Evo transforme o tratamento aos brasileiros em mais um instrumento de política interna, assim como foi o anúncio do decreto de nacionalização dos setores de gás e de petróleo. O risco é considerado elevado por diplomatas brasileiros, uma vez que Evo enfrenta a pior crise política desde sua posse. A questão do gás não faz parte da agenda do presidente Lula.

O primeiro imbróglio na relação bilateral diz respeito aos produtores de soja brasileiros, radicados legalmente na região de Santa Cruz de la Sierra e responsáveis por cerca de 50% das exportações bolivianas do produto. Eles são alvos diretos da Lei de Reforma Agrária, aprovada no último fim de semana por meio de uma manobra política de Evo. O governo boliviano ¿convenceu¿ senadores suplentes a substituir os titulares da oposição, que haviam se retirado da votação para impedir o quórum mínimo. A lei prevê que caberá exclusivamente aos Comitês de Camponeses, que fazem parte da base de sustentação de Evo, definir o conceito de propriedade rural produtiva e de latifúndio.

O segundo problema é a possibilidade de expulsão do território boliviano dos cerca de 2 mil extrativistas, garimpeiros e agricultores brasileiros que cruzaram a fronteira do Acre e se instalaram irregularmente nos Departamentos (Estados) de Pando e Beni. A Constituição boliviana proíbe que estrangeiros tenham propriedades na faixa de 50 quilômetros da fronteira, e o governo Evo já deixou claro que não fará concessões.