Título: Campinas reduz uso de remédios com acupuntura
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Vida&, p. A36

Em dez meses, Campinas, no interior do Estado, conseguiu reduzir em 12,5% o consumo mensal de medicamentos utilizados para o tratamento de dores crônicas, como artrites, dores oncológicas e dores causadas por traumas. Isso equivale a 74.336 comprimidos a menos de diclofenaco de sódio distribuídos todos os meses pela rede municipal de saúde. A redução no consumo do antiinflamatório, que era de 644.366 por mês em 2005 e passou para 570.000 neste ano, é resultado da implantação de uma técnica criada há 30 anos no Japão, por Toshikatsu Yamamoto, a craniocupuntura.

Desde o começo do ano, 95 médicos já foram treinados para aplicar a técnica. Esse número corresponde a quase 10% dos médicos da rede municipal de saúde. Antes da implantação do projeto, apenas 30 médicos realizavam a acupuntura. ¿Nossa intenção é chegar a 300 médicos na rede¿, diz o coordenador do projeto na cidade, William Hippólito.

Outra situação em que a craniocupuntura tem resultados satisfatórios é em pacientes com as seqüelas de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). Mas são as pessoas com dores crônicas e agudas as mais beneficiadas. Não existem dados oficiais no Brasil, mas admite-se incidência média de 30% de dores crônicas na população mundial. Isso corresponde a 50 milhões de pessoas no País.

MORFINA

Com o uso da técnica de Yamamoto, o paciente não deixa de usar as outras formas de tratamento, mas lentamente pode diminuir o consumo de medicamentos para o alívio das dores. Um dos maiores benefícios, além da ausência da dor, é a redução dos efeitos colaterais causados por esses remédios, como gastrite, lesões hepáticas e renais a longo prazo.

O ex-motoboy Paulo Santos, de 30 anos, sabe bem como são esses efeitos colaterais. Uma vez por semana, uma Kombi da prefeitura leva Santos para o Centro de Reabilitação de Souzas, distrito de Campinas. Após duas horas recebendo a aplicação, volta para casa com as agulhas ainda aplicadas. Ele mesmo as retira.

Há três anos, Santos sofreu um acidente na Marginal Tietê, em São Paulo, que o deixou paraplégico. A gravidade da lesão (fraturou a coluna, ombro e todas as costelas do lado esquerdo do corpo) lhe causaram dores diárias ¿insuportáveis¿ durante esse período.

O martírio só melhorou em agosto, quando Santos iniciou o tratamento com a craniocupuntura no Centro de Reabilitação. O primeiro efeito foi a redução das antes freqüentes infecções urinárias. ¿Tomava seis doses de morfina por dia, agora já não tomo mais¿, diz. ¿Minhas dores estão 80% melhores, e hoje são suportáveis.¿

A notícia do sucesso do tratamento correu rápido. A professora de educação física Clara Lúcia de Paula Vetter, de 52 anos, chegou ansiosa para sua primeira sessão. As fortes dores na coluna e nas pernas não a deixam caminhar normalmente por mais de poucos minutos e fizeram com que se afastasse de suas atividades e do trabalho. Após duas horas de sessão, ela se diz mais aliviada. ¿Sei que o tratamento continua, mas a melhora foi imediata.¿

EXPANSÃO

A experiência de Campinas pode agora ser levada a outros lugares, conta o presidente da Associação Médica Brasileira de Acupuntura (Amba), Rui Tanigawa. A associação, responsável por apresentar a técnica e seus resultados para a Secretaria de Saúde de Campinas, pretende implantá-la também na vizinha Piracicaba. Isso pode ser apenas o começo da expansão da técnica de Yamamoto no Brasil. ¿Pretendemos disponibilizar essa técnica para as prefeituras do Estado de São Paulo¿, diz.

Para Tanigawa esse processo pode trazer, além dos benefícios terapêuticos, economia para o sistema de saúde. ¿Esses são pacientes caros, pois passam por muitas especialidades, exames e tratamentos¿, diz. ¿Invariavelmente não conseguem bons resultados e saem descontentes com os tipos de tratamento que são empregados.¿

¿É muito comum atendermos pacientes que têm dores por anos¿, garante o presidente da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor, Newton Barros. ¿A dor atrapalha o sono, provoca problemas emocionais e pode causar depressão.¿