Título: 17% dos alunos nunca comem merenda escolar
Autor: Souza, Rose Mary de
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2006, Vida&, p. A38
Uma parte considerável dos estudantes matriculados em escola pública prefere não consumir a merenda. Uma pesquisa questionou 1.276 alunos matriculados em três Estados brasileiros e apontou que 17% rejeitam a merenda escolar. Os outros 83% responderam que consumem pelo menos uma vez por semana, mas não deixaram de apresentar ressalvas à qualidade do que comem. Ontem, reportagem publicada pelo Estado mostrava que um quarto das escolas não serve merenda apropriada.
O questionário, criado por pesquisadoras da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba, avalia consumo e aceitação da merenda escolar. Faz parte da investigação de impactos das novas diretrizes estabelecidas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, especificamente na área de operacionalização e atendimento do público-alvo. A equipe quer reavaliar a implantação de cardápio após a municipalização do programa de merenda escolar e eventualmente sugerir outras formas de gestão.
Os dados foram levantados entre os estudantes de escolas públicas nos municípios paulistas de Campinas, Piracicaba e Piedade, em Seropédica (RJ) e em Toledo (PR). O trabalho de apuração de dados, iniciado no segundo semestre de 2004, está sendo finalizado agora e deverá ser concluído até o fim do ano.
JUSTIFICATIVAS
Entre o grupo que não come merenda, 40,1% dos jovens não gostam da comida; 30,4%, não têm vontade ou fome; 6,3%, compram lanche na cantina; 5,9%, têm nojo da comida servida; e 5,5% disseram que levam lanche de casa.
Entre os alunos que afirmam aceitar a merenda escolar, 40,8% fazem a refeição de quatro a cinco dias na semana, 34,6% comem entre duas a três vezes e 7,3%, uma única vez na semana. Mas mesmo entre quem aceita a merenda, 66,2% reprovaram a forma de preparo de alimentos como sopas e 20% reclamaram dos talheres. Destes, 26,3% não gostam de usar colher para comer alimentos sólidos. O prato de polipropileno é alvo da reclamação de 59,9% dos alunos e 21,9% disseram ¿detestar¿ o odor que exala de copos e canecas de plástico.
REJEIÇÃO ALTA EM CAMPINAS
A recusa da merenda em Campinas é a maior dos cinco municípios pesquisados - 25%. Conforme dados da prefeitura, por dia são servidas 160 mil refeições nas 518 unidades escolares municipais e estaduais. Os alimentos são fornecidos pelas Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa).
O estudante Danilo Costa Lima, de 13 anos, da 6ª série da Escola Estadual Adalberto Prado Silva, em Campinas, diz que prefere levar lanche de casa ou comprar salgadinhos na cantina. ¿Nunca gostei de merenda¿, afirma. Júlia Tais de Melo, de 7 anos, está na 1ª série da Escola Artur Seguraro, na Vila Nova, e falou que gosta de tudo menos sopa, polenta e salada. ¿De legume, só como cenoura.¿ A dona de casa Simone Lopes, mãe de Heloísa, conta a mesma coisa que Renata Foche, mãe de Mateus. As crianças, matriculadas no ensino infantil, não gostam do leite, que é em pó, e preferem suco de frutas.
Os estudantes Felipe Henrique Valadares, de 17 anos, Patrícia Tavares Prado, de 16, e Talita de Amorim, de 17, estão no colegial no horário da manhã. Para eles o ideal seriam refeições leves, como sanduíche de frios ou geléia, cachorro-quente, suco de frutas ou leite, por exemplo, no lugar de arroz com feijão, legumes, carne e macarronada às 9 horas da manhã. ¿A gente percebe que tem gente que come. Mas no geral não, por que é muito pesado¿, resume Talita. ¿Esse negócio de merenda tem de ser estudado¿, concorda Felipe.
POLÍTICA PÚBLICA
¿O trabalho dá continuidade a outros levantamentos que serão cruzados¿, explica uma das idealizadoras e coordenadoras do estudo, a pesquisadora Gilma Lucazechi Sturion, do Departamento de Agroindústria, Alimento e Nutrição da Esalq. O resultado será levado aos órgãos envolvidos na adoção do sistema de alimentação escolar nos governos federal, estadual e municipal. Em uma próxima etapa, a pesquisa promete trazer um quadro nutricional dos alimentos oferecidos na merenda.
O estudo ainda desenha o perfil socioeconômico dos consumidores de merenda: 33,6% são de famílias cuja renda familiar per capita é de até um salário mínimo.
Na apuração e avaliação dos questionários estão a Esalq, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Universidade do Paraná e a Prefeitura de Piedade. A pesquisa é financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).