Título: Lula dobrou gastos de 2002 para se reeleger
Autor: Leal, Luciana Nunes e Gallucci, Mariângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2006, Nacional, p. A5
Apesar das restrições à propaganda eleitoral que vigoraram nas eleições deste ano, a campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve praticamente o dobro dos gastos da disputa presidencial de 2002. Em valores atualizados, a campanha nacional do PT gastou R$ 52,4 milhões em 2002 e R$ 104,3 milhões este ano. Na prestação de contas protocolada ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha declara uma dívida de R$ 9,876 milhões, assumida pelo PT.
A campanha do candidato tucano Geraldo Alckmin comunicou ao TSE uma dívida de R$ 19,9 milhões. O comitê financeiro informou que gastou R$ 81,9 milhões e arrecadou R$ 62,02 milhões. A dívida será assumida pelo PSDB. Os gastos da campanha de Alckmin foram 77% maiores do que a do tucano José Serra em 2002, comparando valores atualizados. Em 2002, a despesa do PSDB foi o equivalente a R$ 46,2 milhões.
Juntas, as campanhas de Lula e Alckmin gastaram R$ 186,23 milhões, arrecadaram R$ 156,45 milhões e deixaram dívidas de R$ 29,78 milhões.
O Diretório Nacional do PT, apertado com uma dívida de R$ 46 milhões que vem desde o ano passado, não só assumiu as pendências como ainda conseguiu R$ 10 milhões para doar à campanha de Lula. A prestação de contas mostra que um grupo de colaboradores preferiu investir no PT somente depois de o presidente estar reeleito. Um quarto dos R$ 88,768 milhões em contribuições financeiras foi arrecadado depois de 29 de outubro, ou seja, quando Lula já tinha sido reeleito. A lei permite que campanhas eleitorais recebam doações até um mês depois da votação.
Segundo Filippi, a campanha arrecadou R$ 50 milhões no primeiro turno, caiu para R$ 16 milhões no segundo turno e chegou a R$ 22 milhões depois de encerrada a disputa presidencial. O tesoureiro confessou a 'frustração' com o que considerou baixa contribuição de militantes. Disse que cerca de 2.800 doadores eram pessoas físicas, mas colaboraram com apenas R$ 3,5 milhões, ou 4% do total.
No caso das empresas, a adesão também foi baixa, na avaliação de Filippi. Foram 300 pessoas jurídicas, que doaram R$ 85,2 milhões.
O presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, calculou que mais de R$ 4 milhões já foram conseguidos com doações recentes e ajudarão a pagar os R$ 9,8 milhões devidos a duas gráficas, uma fabricante de etiquetas e adesivos e uma empresa de publicidade. 'Os R$ 9 milhões vão sair do caixa do PT. Já temos uns R$ 4 milhões, temos de buscar mais R$ 5 milhões', disse. Garcia isolou o problema da dívida antiga do partido. 'A dívida do PT está absolutamente administrada, renegociada.'
Para chegar aos R$ 5 milhões que faltam, Filippi disse contar com contribuições de militantes quando receberem o 13º salário. O PT tinha previsto gastos de R$ 89 milhões no início da campanha e passou para R$ 115 milhões, com autorização do TSE, quando se viu diante da necessidade de disputar o segundo turno. 'Felizmente, não precisamos gastar todo o dinheiro. Deixaremos uma pequena dívida para o partido honrar', disse Garcia.
Entre as despesas da campanha petista, estão R$ 4,8 milhões reembolsados à União, para pagamento das viagens de Lula no avião presidencial, mais pagamento de combustível e lanche de funcionários da Presidência, como motoristas e seguranças.
Os principais gastos da campanha pela reeleição foram com material impresso e placas de propaganda, que somaram R$ 39,3 milhões, incluindo os R$ 9,8 milhões que ainda não foram pagos. A propaganda no rádio e na televisão custou R$ 13,750 milhões, em dois contratos com o marqueteiro João Santana, no valor de R$ 8,250 milhões no primeiro turno e R$ 5,5 milhões no segundo turno.