Título: Acabam em pizza processos contra Suassuna, Serys e Malta no Senado
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2006, Nacional, p. A9

Terminaram em pizza os processos contra os três senadores citados pela CPI dos Sanguessugas como envolvidos no esquema da compra de ambulâncias superfaturadas por prefeituras por meio de emendas ao Orçamento da União. O Conselho de Ética do Senado nem chegou a votar o parecer do relator Jefferson Péres (PDT-AM) pela cassação do mandato de Ney Suassuna (PMDB-PB). No seu lugar foi aprovado, por 12 votos a 2, o voto em separado do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), restringindo a punição a uma censura verbal. Heráclito Fortes (PFL-PI), que chegou atrasado à sessão, votou 'sim' à censura verbal, por recomendação dos companheiros de partido, sem saber ao certo o que estava votando.

Foram arquivados os processos contra os senadores Magno Malta (PR-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT) - que chorou durante a sessão -, seguindo a orientação dos relatores Demóstenes Torres (PFL-GO) e Paulo Octávio (PFL-DF).

O resultado já era esperado, desde que ficou claro o empenho da maioria do conselho em inocentar Suassuna. Seu caso era considerado o mais grave. Seu ex-assessor Marcelo Carvalho foi preso em maio pela Polícia Federal, quando a quadrilha foi desbaratada. Suassuna alegou que foi 'traído' por Carvalho. Serys responsabilizou os prefeitos por terem comprado ambulâncias da Planam - empresa que centralizava a venda dos veículos - com suas emendas e Malta negou conhecer os empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin, donos da Planam.

A favor do parlamentar capixaba, segundo o relator, há o fato de ele não ter apresentado emendas para a compra de ambulâncias. Demóstenes diz, em seu parecer, como a investigação do conselho teria sido conduzida de forma precária, já que o órgão não dispõe - a exemplo das CPIs - de poderes para quebrar sigilo ou requisitar documentos. 'No caso de Magno Malta, como eu não tinha prova para condená-lo nem para absolvê-lo, optei pelo arquivamento da denúncia.'

Segundo os Vedoin, Malta rompeu acordo que previa a apresentação de emendas ao Orçamento, mas teria utilizado um carro da família para transportar sua banda gospel. De acordo com Demóstenes, era mesmo dos Vedoin - não do deputado Lino Rossi (PP-MT) - o carro que o senador usou durante dois anos. No final do parecer, ele compara o episódio à dúvida sobre a fidelidade ou não de Capitu no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Paulo Octávio lembra que a acusação contra Serys foi feita por Darci e Luiz Antônio em depoimento à Polícia Federal. Eles disseram ter negociado com o genro da senadora, Paulo Roberto Ribeiro, a doação de R$ 35 mil para saldar dívidas de campanha em troca da apresentação de emendas ao Orçamento de 2004 para compra de ambulâncias superfaturadas.

Levantamento do Ministério da Saúde mostra que, no Orçamento daquele ano, a petista favoreceu cinco municípios com emenda de R$ 104 mil.

Segundo Serys, a responsabilidade pela compra das ambulâncias é apenas dos prefeitos. Ela diz ainda que duas emendas foram canceladas e somente dois veículos foram comprados na Planam. A senadora petista afirma, por fim, que foi vítima de 'orquestração' para envolvê-la 'numa tramóia'.