Título: 'Atacar a Previdência virou moda'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2006, Economia, p. B1
Era para ser só festa, mas a cerimônia de posse da nova diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) virou um debate sobre a necessidade de reformar a Previdência Social no País. Armando Monteiro Neto, que tomou posse da presidência da entidade por mais quatro anos, defendeu as reformas, entre elas a da Previdência, como o único meio de retomar o crescimento econômico. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu, dizendo que criticar a Previdência 'virou moda', mas o déficit da área não é tão grande assim.
Mais cedo, Lula havia estado com o presidente do PDT, Carlos Lupi, que saiu do encontro dizendo que o governo não encaminhará uma proposta de reforma da Previdência. 'O presidente disse que não pretende fazer reforma, que não quer tocar nesse assunto e que não é programa de governo dele fazer qualquer mudança na Previdência. Ele quer melhorar a arrecadação e continuar o esforço do recadastramento dos aposentados', afirmou Lupi.
Na festa de posse da CNI, que foi prestigiada por ministros, governadores, empresários e congressistas, Monteiro bateu duro na relutância do governo em propor reformas profundas na estrutura do gasto público. 'Ligar a ignição do crescimento exige atacar frontalmente a questão fiscal. Este não é um problema que admite soluções simplistas. Reconhecer sua complexidade é o primeiro passo para acertar.'
Ele acrescentou que a realização das reformas necessárias ao País, como a trabalhista, a previdenciária, a tributária e a política 'exigem elevado capital político, determinação e clareza sobre o que é prioritário, o que representa um obstáculo adicional para os governos'.
'MOTIVO DE DISCURSO'
Lula não deixou por menos. 'Eu vejo agora que a moda é jogar a culpa na Previdência Social. Agora todo e qualquer problema se resolve com a Previdência Social', disse. Ele explicou que, levando em conta apenas o total de contribuições recebidas e benefícios pagos pelo sistema, o déficit ' não seria motivo de discurso de nenhum de nós'.
O presidente Lula acredita que a fonte do déficit são a aposentadoria rural e os benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), voltados para deficientes e idosos de baixa renda, e o Estatuto do Idoso, que garante um salário mínimo mensal para pessoas de baixa renda com mais de 67 anos.
Ele acredita que esses programas deveriam ser lançados na conta do Tesouro e não da Previdência. 'Isso não é política de Previdência, é política de seguridade. E nós não podemos jogar nas costas de quem contribui', afirmou o presidente. Na realidade, com exceção da aposentadoria rural, esses benefícios não fazem parte do cálculo do déficit previdenciário, estimado em R$ 42 bilhões neste ano.