Título: Furlan e empresários cobram pressa
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2006, Nacional, p. A4

Antes mesmo de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregar "um grande entendimento nacional" e o fim da "tensão política", empresários cobraram do governo mais velocidade no crescimento da economia. Convocada para Lula apresentar um plano estratégico para um período de 16 anos, a reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social transformou-se também em palco de exibição das queixas dos empresários. Até o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reforçou o coro das críticas à atual anemia econômica.

Em todas as intervenções, Lula foi tratado como presidente que ficará no cargo até 2010. Furlan sugeriu que o governo passe a adotar formalmente uma meta concreta para o Brasil crescer, sob a alegação de que, até agora, tudo não passa de proposta. "Está na hora de o Brasil olhar para a frente, com compromisso de meta de crescimento, para que os demais fatores sejam pilares", afirmou. "Está na hora de sairmos dos alicerces. Eles já são sólidos o suficiente para que o edifício suba."

O microfone de Furlan pifou na hora de seu discurso. "Houve uma sabotagem ao desenvolvimentismo", brincou Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais.

Um dia depois de se reunirem com Lula, na casa de Furlan, os empresários voltaram à carga: pediram a redução de impostos e mais rapidez nas reformas, principalmente a política, e metas para reduzir as desigualdades.

No documento de 18 páginas apresentado por Tarso Genro, há a previsão de crescimento de 6% até 2022. "Ministro, em 2022 eu terei 76 anos!", constatou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), Luiz Carlos Delben Leite. "É um horizonte muito longo. Além disso, 6% (de crescimento) é pouco. O mundo lá fora está correndo com muito mais velocidade."

Lula escutou tudo calado. Na sua vez de falar, não deixou por menos: afirmou que é preciso "distensionar" o espírito corporativo. "Nós não temos o direito de reclamar. Pelo que eu ouvi até agora, eu vou ser o mais otimista dos brasileiros consagrados, pelo menos no que diz respeito aos discursos", provocou.

O empresário Jorge Gerdau Johannpeter apresentou um documento à parte, com idéias sobre a reforma política e os desafios socioeconômicos, classificando de "insuficiente" a média de crescimento dos últimos 20 anos, em torno de 2,5%. "Não podemos nos contentar com um crescimento inferior a 6%. É uma irresponsabilidade social e coletiva."