Título: Alemanha cobra decisão do Irã
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2006, Internacional, p. A18

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, uniu-se ontem aos EUA nas críticas à resposta do governo iraniano à oferta de benefícios para que abandone atividades na área nuclear. Merkel disse, em entrevista a uma TV alemã, que a reação iraniana parece "insatisfatória" e não traz uma "sentença decisiva" sobre se o país vai continuar a enriquecer urânio.

A posição do Irã foi expressa oficialmente na terça-feira, em carta a vários membros do Conselho de Segurança da (CS) ONU e não divulgada publicamente. Diplomatas que tiveram acesso ao documento disseram que é evasivo e propõe a continuidade das negociações.

"Estamos examinando (a resposta). Mas, de tudo que ouvi, não posso estar satisfeita", declarou a chanceler. "O que nós esperamos não foi definido. Que eles digam: 'Sim, nós estamos suspendendo o enriquecimento de urânio, vamos para a mesa de negociações e vamos conversar sobre as chances e possibilidades para o Irã'."

O Irã está sob pressão do CS para que suspenda seu programa de enriquecimento de urânio, visto com suspeita porque é uma etapa do ciclo nuclear que pode conduzir à fabricação de armas. Apesar de o governo iraniano insistir que seu objetivo é pacífico (a produção de energia elétrica), a desconfiança é forte. Isso por que o país ocultou por 18 anos instalações nucleares que deveriam estar sob supervisão internacional.

Para convencer o Irã a desistir de produzir urânio enriquecido, seis potências mundiais (EUA, França, Alemanha, China, Rússia e Grã-Bretanha) lhe ofereceram um pacote de benefícios econômicos e tecnológicos. E o CS havia dado prazo até o dia 31 deste mês para que o país aceitasse, ameaçando com punições não especificadas em caso negativo. Funcionários americanos disseram na quarta-feira que os EUA estão em consultas com as outras potências e também estudam propor sanções contra o Irã.

De acordo com um relatório de três acadêmicos iranianos - incluindo um perito com bons contatos com autoridades em Teerã - na carta-resposta de terça-feira o Irã pediu que seja fixado um cronograma para o recebimento dos incentivos econômicos e tecnológicos e definidas garantias de segurança regionais para o país.

Eles disseram que o Irã indagou por que a resolução do CS mencionou as obrigações do país em relação ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas não lembrou de seu direito de dominar todo o ciclo nuclear. Segundo os acadêmicos, embora o Irã tenha rejeitado a suspensão imediata do enriquecimento de urânio, deixou a porta aberta para uma solução aceitável para os dois lados.

No caso de Merkel, a política externa é uma das áreas mais importantes para o seu governo justamente porque tem uma avaliação positiva do eleitorado. Embora enfrente uma maré de más notícias (leia artigo ao lado), Merkel pode se vangloriar de ter se destacado no plano externo desde a sua posse.