Título: Governo Lula pressiona a Volks
Autor: Silva, Cleide e Warth, Anne
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2006, Economia, p. B5
A pedido do governo, a direção da Volkswagen do Brasil vai se reunir, na segunda-feira, com os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, para esclarecer a ameaça de fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, feita pela montadora na segunda-feira.
Também participará o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca. A montadora será representada pelo vice-presidente de Recursos Humanos, Josef-Fidelis Senn. O presidente da Volks, Hanz-Christian Maergner estará na Alemanha. A reunião foi sugerida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem à tarde, em São Paulo, Marinho disse que insistirá na idéia de cancelar o empréstimo de R$ 497,1 milhões que o BNDES concederá à Volks caso a empresa mantenha o plano de demitir 3,6 mil pessoas na fábrica Anchieta. Um dia antes, Fiocca disse que as demissões não estão relacionadas ao projeto para o qual o dinheiro foi aprovado e ainda não liberado.
Marinho afirmou ser conselheiro do banco e iniciará discussões sobre o assunto na instituição. "O governo não está admitindo o fechamento da unidade, tanto é que está chamando a Volkswagen para discutir e entender as razões da montadora", disse. "O dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) financia o BNDES. Para mim, como ministro, não caberá qualquer centavo do BNDES para financiar empresa que diz que vai fechar uma unidade no Brasil." Sobre o número de demissões, Marinho disse que certamente o sindicato e a empresa chegarão a um acordo. "Lá atrás, a Volkswagen também sinalizou com o fechamento de fábricas e depois fez um acordo para garantia de empregos por cinco anos", disse.
Para o ministro, a companhia pode estar blefando. "A Volkswagen é uma grande empresa, está no Brasil há muitos anos e certamente continuará no País." Em sua avaliação, o momento do setor automotivo não corresponde ao anúncio do fechamento de fábricas. Ele lembrou que o governo adotou medidas compensatórias para minimizar o impacto do câmbio nas exportações.
A Volks lembrou que apresentou o plano de reestruturação em maio a vários ministros e ao próprio Lula e já constava a possibilidade de fechamento de uma fábrica.
Marinho, funcionário licenciado da Volks e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, não acredita que a VW esteja se aproveitando do momento político para pressionar o governo. "Não creio que uma multinacional teria tal petulância. Pode ser que a Volks esteja fazendo chantagem com os trabalhadores para que eles abram mão de benefícios."