Título: Aldo admite que acabou isolado
Autor: Lopes, Eugênia e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2006, Nacional, p. A5

Com a imagem arranhada por causa do empenho que exerceu na tentativa de garantir um reajuste salarial de 90,7% para os parlamentares, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B-SP), reclamou ontem do comportamento adotado pelos senadores.

Pela primeira vez, Aldo admitiu publicamente que ficou sozinho na defesa da elevação para R$ 24.500 dos subsídios dos deputados e senadores, apesar de a decisão ter sido tomada em conjunto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ambos são candidatos à reeleição ao cargo nas Casas e contam com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa.

'Eu não fiquei sozinho. Eu, pelo menos, espero que tenha contado com a companhia de Deus', desabafou Aldo, ao reconhecer que foi um erro insistir em um reajuste de quase 100% para os parlamentares.

Amigo de longa data de Renan, o presidente da Câmara evitou fazer críticas diretas a seu conterrâneo - apesar de Aldo se eleger por São Paulo, seu Estado natal é Alagoas. 'Há um clima de cordialidade, de respeito e de independência, como deve ser a relação entre as duas Casas', afirmou.

DESGASTE

Desde o início da semana, Renan deixou Aldo sozinho na defesa do reajuste. Enquanto o presidente da Câmara dava entrevistas a favor do aumento, o peemedebista confidenciava a interlocutores que seria melhor submeter a proposta à votação nos plenários legislativos.

Na quinta-feira passada, Renan deu aval ao aumento de R$ 24.500 por meio de um ato das Mesas Diretoras das duas Casas no Congresso.

Ontem, entretanto, ele não escondeu a sua disposição de lavar as mãos e jogar todo o desgaste político do reajuste para a Câmara. O peemedebista cancelou a reunião que teria com os líderes partidários do Senado, na qual poria em discussão um projeto de decreto legislativo que fixaria o valor dos salários dos congressistas.

'Temos de organizar a votação o mais rapidamente possível. Mas a iniciativa do projeto com o aumento é da Câmara', alegou. 'O teto salarial é para moralizar. Mas não pode continuar essa distorção: ter um teto de mentirinha e as pessoas ganharem muito mais do que o teto de R$ 24.500', observou, referindo-se ao valor máximo de remuneração dos servidores públicos, equivalente ao salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Na opinião do líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), o comportamento do presidente do Senado no episódio do reajuste foi 'infeliz'. 'Todo parlamentar deveria assumir com coragem as suas posições. Desde o deputado menos conhecido até os presidentes da Câmara e do Senado.'

'O Renan não foi solidário com o Aldo quando sentiu que a repercussão na sociedade foi violenta', disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). 'Ele estava na reunião que decidiu pelos R$ 24.500. Mas, mais uma vez, usou sua sagacidade política', alfinetou.

ERRO

Bombardeado ao longo da última semana, Aldo reconheceu ontem pela primeira vez que errou ao insistir no reajuste de 90,7%.

Mas observou: 'Não vejo problema em reconhecer erros. O problema é quando você erra e persiste no erro. Se a Mesa da Câmara e do Senado, com o apoio dos líderes, apresentarem uma proposta, ela tem de ser corrigida.'

'Não vejo problema em que haja esta correção. Vejo problemas quando as pessoas não aprendem com os erros, principalmente quem tem a incumbência de representar o povo.'