Título: Trégua entre Hamas e Fatah começa com duas mortes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2006, Internacional, p. A19

Os pedidos de vingança pela morte de dois membros das forças de segurança do presidente palestino, Mahmud Abbas, do Fatah, ameaçavam ontem romper a trégua firmada na terça-feira entre seguidores desse partido laico e do grupo islâmico Hamas - a segunda em menos de dois dias.

Os dois militantes do Fatah foram mortos durante a madrugada de terça para quarta-feira no bairro de Sabra, em Gaza, quando seu veículo foi atacado por integrantes armados do Hamas. O incidente ocorreu apenas duas horas depois do anúncio do cessar-fogo e deixou outras sete pessoas feridas. Centenas de simpatizantes do Fatah participaram dos funerais, pedindo vingança. Eles queimaram carros e gritaram palavras de ordem contra o primeiro-ministro Ismail Haniye, do Hamas.

Abbas instou seus aliados a ter calma e disse que desta vez a trégua será cumprida. Por volta do meio-dia, todas as milícias desapareceram das ruas de Gaza, como determinava o acordo. Só permaneceram os guardas que vigiavam a residência e o escritório de Abbas.

Os conflitos entre o Hamas e o Fatah começaram na semana passada, depois do assassinato dos filhos de um chefe do serviço de inteligência do Fatah. Os confrontos se intensificaram no sábado, quando Abbas, decepcionado com o fracasso das negociações para formar um governo de coalizão, anunciou a convocação de eleições antecipadas - o que implicará na dissolução do gabinete de Haniye. Nas últimas duas semanas, 17 pessoas morreram nos confrontos, o que faz desta a maior onda de violência entre palestinos na última década.

REPASSE DE ISRAEL

O governo israelense está considerando a possibilidade de entregar para Abbas US$ 500 milhões em impostos retidos por Israel, de acordo com fontes palestinas e diplomatas ocidentais citados pela Reuters. A Autoridade Palestina passa por sérios apuros econômicos desde que Haniye assumiu o posto de primeiro-ministro, em março, e a comunidade internacional cortou a ajuda ao governo palestino. Abbas é visto como moderado e repassar o dinheiro para ele é uma maneira de fortalecê-lo frente ao Hamas.

O porta-voz do grupo islâmico, Fawzi Barhoum, disse que, apesar de preferir que o dinheiro fosse entregue diretamente para o governo de Haniye, o Hamas não fará objeções a sua entrada nos territórios palestinos, se ele for usado para pagar funcionários públicos e melhorar as condições de vida da população na região. O escritório do premiê israelense, Ehud Olmert, se recusou a comentar a informação.