Título: Evo rejeita recuo em regra de votação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2006, Internacional, p. A21

O presidente boliviano, Evo Morales, disse ontem concordar com a necessidade de a futura Constituição garantir a aplicação de um regime autônomo nos quatro departamentos (Estados) que votaram por mais independência em relação ao governo central, de La Paz. Mas, ao mesmo tempo, Evo rejeitou a principal reivindicação da oposição - a de que as propostas apresentadas na Assembléia Constituinte sejam aprovadas por maioria de dois terços, e não de 50% mais 1, como defende o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS).

Embora Evo, que também é o principal dirigente do MAS, acene com uma proposta de conciliação aos líderes dos departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando - que na semana passada promoveram maciças manifestações para exigir autonomia -, suas declarações sobre o sistema de votação da Constituinte condenam ao fracasso uma tentativa de acordo com a oposição.

Na véspera, uma comissão mista, composta por cinco deputados do MAS e cinco da oposição, foi formada para apresentar uma proposta alternativa sobre as regras da Constituinte. A proposta deveria ser apresentada ontem à mesa da assembléia, dominada pelos governistas, que decidiria se ela seria ou não levada a plenário.

Os opositores argumentam que a regra imposta pelo MAS excluirá os partidos minoritários dos debates sobre a futura Carta - uma vez que o partido de Evo elegeu mais da metade dos 255 deputados constituintes em 2 de julho. O presidente ressaltou, no entanto, que a versão final da nova Constituição será submetida a referendo.

Os líderes das regiões nas quais a opção pela autonomia saiu vencedora num plebiscito realizado também em 2 de julho ameaçam não reconhecer a nova Constituição se seu texto não contemplar 'num grau adequado' suas reivindicações de independência administrativa e fiscal. As propostas mais radicais prevêem a declaração de uma 'autonomia de facto' - que significa, na prática, o rompimento total com o governo central - dessas regiões.

APROVAÇÃO EM QUEDA

Empurrada pelo aumento da desaprovação no departamento de Santa Cruz - o mais próspero do país -, a popularidade de Evo caiu cinco pontos porcentuais em um mês, segundo pesquisa do instituto Apoyo. Em termos nacionais, Evo tinha 67% de aprovação em novembro e caiu para 62% na sondagem divulgada ontem. Em Santa Cruz, a popularidade do presidente caiu de 42% para 35% nas duas últimas pesquisas.

Também ontem, o vice-ministro da Coca, Félix Ibarra, afirmou que explicaria, 'nas próximas horas', a autoridades dos EUA o plano do governo de ampliar de 12.000 para 20.000 hectares a área para a produção legal de folha de coca.