Título: Rosales admite derrota, mas diz que não desistirá
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Internacional, p. A13
¿Por ahora¿ (por enquanto), limitou-se a declarar o então tenente-coronel Hugo Chávez ao render-se após o fracasso da tentativa de golpe liderada por ele em fevereiro de 1992. Era uma mensagem clara de que pretendia voltar. Na noite de domingo, já madrugada de ontem no Brasil, o principal opositor de Chávez na eleição presidencial, o governador de Zulia, Manuel Rosales, adotou um discurso semelhante para anunciar que não desistirá.
¿Hoje nos venceram¿, declarou Rosales em Maracaibo. ¿Desde agora, iniciamos uma luta para a construção de um novo tempo para a Venezuela. Estarei nas ruas, lutando pelo povo da Venezuela, pela democracia, pela liberdade.¿ Rosales contestou os números anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral. ¿A diferença não é tão grande. A verdade é que, ainda que por uma margem estreita, hoje nos venceram.¿
O candidato deu a entender que alguns de seus seguidores defendiam a estratégia de atribuir a derrota a uma fraude eleitoral, cujos indícios vinham sendo buscados desde o início da votação de domingo por partidários da oposição e repórteres das emissoras de TV privadas. ¿Sei que alguns, em posições emotivas, queriam que eu mentisse e mobilizasse o povo dizendo mentiras, mas eu jamais faria isso, pois a verdade logo apareceria.¿ O sinal de que Rosales não adotaria a tática de alegar fraude - como os oposicionistas fizeram em eleições anteriores - veio no momento em que as TVs antichavistas começaram a exibir queixas de partidários da oposição.
Segundo denúncias, soldados da Guarda Nacional estariam intervindo no processo durante o fechamento das urnas, grupos de chavistas teriam impedido a auditoria do escrutínio e ônibus de partidários de Chávez estariam chegando para votar após o encerramento dos trabalhos. O denuncismo parou quando o responsável pela estratégia de campanha de Rosales, o jornalista Teodoro Petkoff, se pronunciou em tom áspero: ¿O processo eleitoral se desenvolve de modo satisfatório, embora tenhamos registrado problemas pontuais que já estão sendo resolvidos.¿
¿O reconhecimento de Rosales mostra sua disposição de tornar-se o líder anti-Chávez que a oposição vinha buscando havia oito anos¿, disse Andrés Suárez, professor de sociologia da Universidade Bolivariana, de Caracas - o mais forte reduto acadêmico do chavismo. ¿Resta saber como será sua relação com a linha dura do campo opositor, que defende a deposição de Chávez pela via golpista.¿ Em Altamira, distrito de classe média alta de Caracas, a maior parte das pessoas estava convencida de que a derrota de Rosales tinha sido produto de uma fraude.