Título: Venezuelano pede união por país socialista
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Internacional, p. A14

As marcas da festa pela vitória do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na véspera, permaneciam ontem de manhã nas imediações do Palácio de Miraflores. Pelas ruas havia toneladas de papel, copos de plástico e garrafas de bebidas, apesar da lei seca que ainda vigorava no país na noite de domingo, quando uma multidão se concentrou ali para ouvir o discurso da vitória de Chávez.

¿Hoje teve muita gente que nem foi trabalhar¿, disse ao Estado Jesus Amundaray, que vende jornais na praça adjacente. ¿Temos mais seis anos para festejar. Depois, elegemos o comandante de novo e festejaremos por mais seis anos¿, acrescentou, rindo.

A presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, ainda não tinha terminado de ler o primeiro boletim oficial da apuração, às 22 horas de domingo (meia-noite de Brasília), quando o ruído de fogos de artifício, buzinas e apitos rompeu o tenso silêncio que se mantinha em Caracas desde o fechamento das urnas, cinco horas antes. Terminada a leitura do boletim, Chávez apareceu no balcão do palácio, ao lado do vice-presidente, José Vicente Rangel, e outros seguidores. Sob pesada chuva, os gritos de saudação da multidão pararam quando Chávez começou, em sua primeira manifestação, a cantar o hino nacional. Depois, falou por uma hora.

¿A nova era que começa hoje terá como linha estratégica fundamental o aprofundamento, a expansão e a ampliação da revolução bolivariana¿, discursou. ¿Mais de 60% dos venezuelanos votaram não por Chávez, mas por um projeto que tem nome: o socialismo bolivariano.¿

¿A vitória bolivariana é inquestionável e contundente¿, afirmou, antes de convidar ¿todos os setores da vida nacional, com distintos enfoques, distintas idéias e vertentes de pensamento a dedicar-se a construir essa Venezuela mais justa e socialista¿. ¿Que ninguém tenha medo do socialismo!¿

Depois de dedicar a vitória a Simón Bolívar, a Fidel Castro e ao povo cubano - ¿tão maltratado pela oligarquia venezuelana¿ -, o presidente reeleito dirigiu ¿algumas palavras de reconhecimento¿ aos que votaram contra ele, ¿por sua demonstração democrática¿. Chávez também afirmou que a eleição de domingo deu ¿outra lição de dignidade ao imperialismo americano¿. ¿Esta é outra derrota para o império e para o diabo (como se refere ao presidente americano, George W. Bush), que pretende dominar o mundo.¿

A multidão fanática, quase toda vestida de vermelho - muitos usando a boina que se tornou a marca registrada do chavismo -, aplaudia e gritava o slogan da campanha ¿uh, ah, Chávez no se vá¿. O equipamento de som para a celebração já tinha sido instalado no local pela manhã. O discurso foi transmitido por todas as emissoras de TV de Caracas, incluindo as privadas, das quais algumas podem não ter seus contratos de concessão renovados no ano que vem.